Quem sou eu

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Professor, Advogado, Especialista em Direito Constitucional pela Escola Paulista de Direito, Pós Graduado em Direito Constitucional e Administrativo, sócio fundador da Peres e Almeida Advogados Associados, sócio fundador da Bait Iehuda Condomínios, Membro do GEA - Grupo de Estudos Avançados do Complexo Jurídico Damásio de Jesus, fundador e Conselheiro Vitalício do IPAM - Instituto Paulista dos Advogados Maçons

segunda-feira, 29 de novembro de 2010

D E T A L H E S

Não adianta nem tentar
Me esquecer
Durante muito tempo
Em sua vida
Eu vou viver...


Detalhes tão pequenos
De nós dois
São coisas muito grandes
Prá esquecer
E a toda hora vão
Estar presentes
Você vai ver...


Se um outro cabeludo
Aparecer na sua rua
E isto lhe trouxer
Saudades minhas
A culpa é sua...


O ronco barulhento
Do seu carro
A velha calça desbotada
Ou coisa assim
Imediatamente você vai
Lembrar de mim...


Eu sei que um outro
Deve estar falando
Ao seu ouvido
Palavras de amor
Como eu falei
Mas eu duvido!

Duvido que ele tenha
Tanto amor
E até os erros
Do meu português ruim
E nessa hora você vai
Lembrar de mim...


A noite envolvida
No silêncio do seu quarto
Antes de dormir você procura
O meu retrato
Mas da moldura não sou eu
Quem lhe sorri
Mas você vê o meu sorriso
Mesmo assim
E tudo isso vai fazer você
Lembrar de mim...


Se alguém tocar
Seu corpo como eu
Não diga nada
Não vá dizer
Meu nome sem querer
À pessoa errada...


Pensando ter amor
Nesse momento
Desesperada você
Tenta até o fim
E até nesse momento você vai
Lembrar de mim...


Eu sei que esses detalhes
Vão sumir na longa estrada
Do tempo que transforma
Todo amor em quase nada
Mas "quase"
Também é mais um detalhe
Um grande amor
Não vai morrer assim
Por isso
De vez em quando você vai
Vai lembrar de mim...


Não adianta nem tentar
Me esquecer
Durante muito
Muito tempo em sua vida
Eu vou viver
Não, não adianta nem tentar
Me esquecer...

sexta-feira, 26 de novembro de 2010

Vaieshev
Sonhos e interpretações

O que são os sonhos? Como funcionam? O que dizem com respeito à realidade? Existem diversas teorias. Alguns sustentam que os sonhos são restos da experiência vivida durante o dia e simplesmente retratam como essa experiência ficou registrada na emoção da pessoa, sem barreiras, às vezes sem leis de coerência, a partir de livre associação. Nos sonhos juntamos pessoas que não se conhecem, paisagens distantes umas das outras, tempos afastados uns dos outros, conforme as relações que têm para nossas emoções. Os sonhos assim podem nos mostrar as expectativas que temos, medos e desejos. Outros acreditam que os sonhos são revelações mesmo, que vêm de outras esferas, e através deles voltamos a viver mesmo o passado; vivemos um futuro possível ou preciso; e também opções que nunca aconteceram nem acontecerão na realidade física. É outra dimensão de realidade, talvez não menos verdadeira, embora menos concreta.

Na parashá, José sonha o que se realizará anos mais tarde e revela nos sonhos dos demais o que acontecerá em breve. Os comentaristas se dividem em três a respeito da capacidade de ver as verdades históricas de José através dos sonhos.

1) Deus revelou a José a verdade escondida na metáfora do sonho. O sonho é profético e precisa de um decodificador.
2) José sabia os segredos da corte real e ouvira o que aconteceria. Ele simplesmente colocou a informação que obtivera dentro da metáfora do sonho. Sem magias, nem místicas, nem interpretações. Simplesmente com astúcia e sabedoria diplomática.
3) José tinha uma intuição psicológica muito aguçada, com uma profunda sensibilidade para compreender o próximo, e através do sonho sentia a pessoa e a entendia. Os sonhos não são senão o que vibra no fundo da alma da pessoa. O que se apresenta nos sonhos é a profundidade do coração.

Belezas interiores e exteriores em diferentes circunstâncias

José era bonito de atitude e de aspecto, diz o texto. Os sábios se detêm na diferenciação. Uma é a beleza física e outra é a beleza do espírito. Uma é a beleza do corpo, externa; a outra é a que se reflete no comportamento, é a estética da ética. Esta segunda é a que nos leva a dizer muitas vezes “que lindo gesto”, “que linda personalidade”, “que lindo pensamento”. José conta a verdade de seus sonhos a seus pais e irmãos, assim como também conta a verdade sobre as fracas atitudes dos irmãos para seus pais. Porém junto à virtude da verdade, ele tem o defeito da insensibilidade para com o outro. José começa seu percurso com transparência, mas também com arrogância e encerrado apenas em seus próprios interesses. Só mais tarde, quando estiver no fundo do poço, experimentará a humildade necessária para ver os demais e reconhecer as expectativas deles. Assim rechaçará a sedução da mulher de Potifar, o amo que deu tudo para ele; e rejeitará de si a arrogância de crer que pode tudo, que tudo lhe pertence e que só ele conta. Inclusive dirá que sua sabedoria não é dele, não é mérito próprio e sim um presente da vida e de Deus. Reconhecerá que tudo é produto de vários, que tudo o que acontece convive com vários fatores e várias pessoas. Apenas então José entenderá o seu lugar único e ao mesmo tempo pequeno e relativo. Nesse momento será definido como belo de atitude e não apenas de aspecto.

Presença Divina na desgraça?

A cada passo da vida de José o texto fala que Deus estava com ele. É imprescindível perguntar-se qual é o significado dessa frase nos momentos de desgraça de José. Onde estava a Presença Divina na vida de José quando este sofria por ter sido jogado no poço por seus irmãos, quando foi sido vendido como escravo, quando foi posto na cárcere por um crime que não cometeu? Alguns dirão que Deus evitava em cada circunstância que esta fosse pior do que podia ser: para que José saísse rapidamente do poço, que fosse vendido para um bom amo, que no cárcere tivesse as melhores condições. Segundo esta ideia, a Presença Divina não muda a história feita pelos homens, mas apenas cuida deles no decorrer desta história. Cuida deles mesmos, cuida para que os homens não consigam usar a sua liberdade a fim de cometerem danos maiores contra si mesmos. Essa interpretação seria difícil de aceitar diante da Shoá, da Inquisição e de desastres naturais. A menos que digamos que o cuidado de Deus consiste em acompanhar a pessoa na desgraça, no enfoque em lidar com ela, mas não em intervir física ou ativamente nos fatos. Outra explicação diz que a Presença Divina consiste no significado que conseguimos tirar ou dar às diversas experiências que vivemos, boas e más. A Presença Divina é o significado e a prova que se nos apresenta através de cada momento de felicidade e de angústia, de sucesso e de desgraça.  “Deus estava com José” para fazer com que ele tire o melhor de cada oportunidade de vida e não apenas viva.

Shabat shalom,
Rabino Ruben Sternschein

Shabat Shalom!!!
Iehuda Henrique Peres

A PALO SECO - JOÃO CABRAL DE MELO NETO

A palo seco

1.1.
Se diz a palo seco
o cante sem guitarra;
o cante sem; o cante;
o cante sem mais nada;
se diz a palo seco
a esse cante despido:
ao cante que se canta
sob o silêncio a pino.
1.2.
O cante a palo seco
é o cante mais só:
é cantar num deserto
devassado de sol;
é o mesmo que cantar
num deserto sem sombra
em que a voz só dispõe
do que ela mesma ponha.
1.3.
O cante a palo seco
é um cante desarmado:
só a lâmina da voz
sem a arma do braço;
que o cante a palo seco
sem tempero ou ajuda
tem de abrir o silêncio
com sua chama nua.
1.4.
O cante a palo seco
não é um cante a esmo:
exige ser cantado
com todo o ser aberto;
é um cante que exige
o ser-se ao meio-dia,
que é quando a sombra foge
e não medra a magia.
2.1.
O silêncio é um metal
de epiderme gelada,
sempre incapaz das ondas
imediatas da água;
A pele do silêncio
pouca coisa arrepia:
o cante a palo seco
de diamante precisa.
2.2.
Ou o silêncio é pesado,
é um líquido denso,
que jamais colabora
nem ajuda com ecos;
mais bem, esmaga o cante
e afoga-o, se indefeso:
a palo seco é um cante
submarino ao silêncio.
2.3.
Ou o silêncio é levíssimo,
é líquido e sutil
que se ecoa nas frestas
que no cante sentiu;
o silêncio paciente
vagaroso se infiltra,
apodrecendo o cante
de dentro, pela espinha.
2.4.
Ou o silêncio é uma tela
que difícil se rasga
e que quando se rasga
não demora rasgada;
quando a voz cessa, a tela
se apressa em se emendar:
tela que fosse de água,
ou como tela de ar.
3.1.
A palo seco é o cante
de todos mais lacônico,
mesmo quando pareça
estirar-se um quilômetro:
enfrentar o silêncio
assim despido e pouco
tem de forçosamente
deixar mais curto o fôlego.
3.2.
A palo seco é o cante
de grito mais extremo:
tem de subir mais alto
que onde sobe o silêncio;
é cantar contra a queda,
é um cante para cima,
em que se há de subir
cortando, e contra a fibra.
3.3.
A palo seco é o cante
de caminhar mais lento:
por ser a contra-pelo,
por ser a contra-vento;
é cante que caminha
com passo paciente:
o vento do silêncio
tem a fibra de dente.
3.4.
A palo seco é o cante
que mostra mais soberba;
e que não se oferece:
que se toma ou se deixa;
cante que não se enfeita,
que tanto se lhe dá;
é cante que não canta,
cante que aí está.
4.1.
A palo seco canta
o pássaro sem bosque,
por exemplo: pousado
sobre um fio de cobre;
a palo seco canta
ainda melhor esse fio
quando sem qualquer pássaro
dá o seu assovio.
4.2.
A palo seco cantam
a bigorna e o martelo,
o ferro sobre a pedra
o ferro contra o ferro;
a palo seco canta
aquele outro ferreiro:
o pássaro araponga
que inventa o próprio ferro.
4.3.
A palo seco existem
situações e objetos:
Graciliano Ramos,
desenho de arquiteto,
as paredes caiadas,
a elegância dos pregos,
a cidade de Córdoba,
o arame dos insetos.
4.4
Eis uns poucos exemplos
de ser a palo seco,
dos quais se retirar
higiene ou conselho:
não o de aceitar o seco
por resignadamente,
mas de empregar o seco
porque é mais contundente.



João Cabral de Melo Neto


(Quaderna. In: Poesias Completas,1975, p.160)

Elis Regina / A palo Seco

quinta-feira, 25 de novembro de 2010

PAULISTA: AGRESSORES DE VOLTA A FUNDAÇÃO CASA

Justiça determinou que os 4 menores acusados de atacar 3 pessoas voltem a cumprir medidas socioeducativas; polícia investiga mais um caso

 
Tiago Dantas - O Estado de S.Paulo em 24 de novembro de 2010
 
Os quatro adolescentes de classe média acusados de agredir três pessoas na Avenida Paulista, no dia 14, voltaram para a Fundação Casa ontem à noite. A Justiça determinou a reinternação dos jovens anteontem, atendendo a pedido da Promotoria da Infância e da Juventude da capital. A decisão, cujos detalhes são mantidos em segredo, prevê a manutenção na fundação por até 45 dias, sem prorrogação.

Até ontem à noite, o Ministério Público Estadual não havia informado se pedira a prisão de Jonathan Lauton Domingues, de 19 anos, único adulto do grupo. Nova vítima dos agressores se apresentou ontem à polícia. Disse que a série de espancamentos daquele domingo começou por volta das 4h, antes dos ataques na Paulista, em uma casa noturna de Moema, na zona sul.

O estudante L., de 19 anos, teve o maxilar quebrado. Ele afirmou à polícia que esbarrou em um dos adolescentes, de 16 anos, na rampa de acesso de uma festa na Avenida Ibirapuera. Ainda segundo o depoimento, L. levou socos e pontapés. Os seguranças da casa separaram a briga. L. disse aos policiais que os agressores ainda discutiram com os vigias.

Da Avenida Ibirapuera, o grupo seguiu para a Avenida Paulista, onde, às 6h, agrediu duas pessoas: o fotógrafo R., de 20 anos, e o estudante O., de 19. A polícia divulgou ontem imagens dessa agressão, gravadas pela câmera de segurança de um prédio da avenida.

O vídeo mostra O. caído na calçada e sendo chutado na cabeça por um dos jovens. O estudante ficou desacordado e passou o dia internado no Hospital Oswaldo Cruz. Cerca de 30 minutos depois, o grupo atacou o estudante L., de 23 anos, cujo vídeo da agressão foi divulgado na sexta. L. foi atingido duas vezes por lâmpadas fluorescentes. "Foram agressões gratuitas. Os depoimentos mostram que os jovens não foram provocados", disse o delegado Roberto Felisoni, do 5.º Distrito Policial (Aclimação).

Entrega. O pai de Domingues se comprometeu ontem a levar o filho à delegacia hoje. Já os quatro adolescentes foram detidos em suas casas ontem à noite e levados para a unidade do Brás da Fundação Casa, conforme informou a instituição.

Os advogados dos cinco acusados não foram localizados para comentar a decisão. Na sexta-feira, Orlando Machado, defensor de um dos menores, abandonou o caso após a divulgação de imagens da agressão.
 


sexta-feira, 19 de novembro de 2010

SHABAT SHALOM

Vaishlach

Pra lá deste quintal era uma noite que não tem mais fim. Pois você sumiu no mundo sem me avisar e agora eu era um louco a perguntar: o que é que a vida vai fazer de mim?
(Chico Buarque)

Jacob finalmente deixa a casa de seu sogro Lavan para trás, mas ao por o pé na estrada é literalmente atingido por mensageiros de Deus. Já na estrada, agora é ele quem envia mensageiros até Esaú. Os mensageiros retornam e relatam: “Fomos até seu irmão. Ele também vem na sua direção – e vem muita gente com ele.” Ciente de que, sendo o filho caçula, trapaceou e tomou de Esaú os direitos de filho mais velho, mesmo após tantos anos sem se encontrarem, Jacob teme a vingança como certa e sente muito, muito medo. Não que Esaú tenha lhe feito algum mal ao longo destes anos. Nem os mensageiros de Jacob dão a entender, objetivamente, que o irmão vem ao seu encontro para atingi-lo, feri-lo, matá-lo. Por enquanto, Jacob só foi atingido mesmo por anjos de Deus. De que forma? Só ele e Deus sabem. 

Contudo, certo de que o pior está por vir, Jacob rearranja todo o seu acampamento e o divide em dois. Ileso não escapará, isso é certeza. Tudo - assim parece acreditar - está nas mãos de Esaú, vingativo, sedento para devolver com juros pelo dano que ele Jacob, o queridinho da mamãe, o trapaceiro, lhe causou no passado.

Por que Jacob sente tanto medo? Outra forma de perguntar é: de que Jacob sente tanta culpa? Ele já havia sido atingido pelos mensageiros de Deus ao sair da casa do sogro. Teriam sido estes os mesmos mensageiros que ele próprio enviou até Esaú com mensagens de paz e amor para apaziguá-lo? E se nem anjos de Deus foram capazes de tamanha proeza? E se Esaú de verdade quiser mesmo é matá-lo e lhe arrancar a cabeça pelo pescoço com os próprios dentes?

Tenho a clara sensação de que Jacob projetava em Esaú as suas próprias culpas. Ele se sente a mais insignificante das criaturas, incapaz até mesmo, ao fazer suas preces, de dizer “Meu Deus”. Deus é o Deus de Abrahão e de Isaac, que foram dignos disso, mas não é o Deus dele, Jacob. “Eu diminuí”, diz. Ele se dá conta de que seus atos do passado não oferecem ameaça somente a si mesmo nem apenas ao seu patrimônio material, mas também à sua família, aos seus filhos, ao seu nome e ao de sua descendência no futuro. “Eu diminuí, dentre todas as bondades e dentre toda a verdade que Tu fizeste...” Jacob intui que falhou no aspecto legal, pois não fez o era justo; e no aspecto moral, ao não agir de acordo com o que se pode chamar de bondoso. Jacob, através dos próprios atos, excluiu a si mesmo de dois acampamentos: o da justiça e o da bondade. “Eu diminuí”.

Há conserto para nossas culpas? Há conserto para os erros do passado, mesmo aqueles cometidos em um passado distante? A resposta é difícil: nem sempre. Há aqueles que simplesmente deixam para lá, na esperança de que as lembranças sejam aos poucos apagadas pelo tempo. Há aqueles que, conscientes ou não, dirigem suas vidas por caminhos que, mais cedo ou mais tarde,  os levarão ao encontro com pessoas a quem atingiram no passado – e tanto temem o encontro quanto o aguardam. E há aqueles que se dão conta de que há dois acampamentos nos quais o acerto de contas com o passado precisa ser travado; no mundo externo e no mundo interno - e partem para o enfrentamento.

Conta-nos o Midrash: “[Jacob] os fez cruzar o rio” (Gênesis 32:24) – ele fez de si mesmo uma ponte que pegava daqui e entregava ali.” [Bereshit Raba] No caminho em direção a Esaú, Jacob fez de si mesmo uma ponte entre seu passado e seu futuro; entre o reconhecimento da culpa diante de Deus e diante de seu irmão; entre o reconhecimento e o enfrentamento da culpa; entre os tempos de irresponsabilidade e os de assumir a responsabilidade por seus atos.

“O mundo inteiro é como uma ponte estreita: o principal é não ter medo”, dizia Rebe Nachman de Breslav. Jacob tinha diante de si um rio caudaloso de muitos medos, mas fez de si mesmo uma ponte, cruzou o rio e enfrentou seus medos. Ele saiu ferido, é verdade. Mas foi assim que Jacob tornou-se Israel: aquele que enfrentou [seus medos diante de] Deus e [diante dos] outros seres humanos – e os venceu.

Shabat shalom, de Jerusalém
Uri Lam

Parashá retirada no site da CIP - Congregação Israelita Paulista


*A parashá da semana é acompanhada por uma ilustração da aquarelista
 Rosália Lerner.



"SENADORES FICAM INDIGNADOS COM A FALA DO JORNALISTA QUE ODEIA POBRE"

"A crítica sofisticada dos fatos"

É tempo de mundança. 

Mudança serena, correta e pacífica, porém mudança. Não é mais possível voltar atrás. A revolta do jornalista Luiz Carlos Prates por ter dividido a estrada ( pública e paga com o dinheiro público )com pessoas humildes e trabalhadoras ( que financiam os seus automóveis )tem muitos significados. 

Sua atitude é mais do que o reflexo do sentimento de alguém que acredita que ler um livro o faz melhor do que outros. Sua atitude refletiu o tipico sentimento de quem se sente superior aos demais por seus "supostos" conhecimentos ( argumento de imposição da classe dominante - ler um livro  ).

Essa atitude do sr. biblioteca revela algo positivo. Este jornalista sabe ( embora jamais reconheça ) que as coisas estão mudando, e que aos poucos os seus dias de pseudo-superioridade estão chegando ao fim; e que esta perto o dia em que ser colega de trabalho do Bozó não significará mais nada...


Iehuda Henrique Peres

Discurso Ideli Salvati - 18/11

Discurso Sen. Ideli Salvati - 18/11 parte 2

quinta-feira, 18 de novembro de 2010

" PLAYBOYZINHOS RESPONDERÃO A AGRESSÃO LIVRES, LEVES E SOLTOS"


O filhinhos de papai que agrediram três pessoas na Avenida Paulista foram soltos mediante liminar concedida pela Justiça de São Paulo. Segundo informações do jornal O Estado de São Paulo, suspeita-se que as agressões foram motivadas pelo fato de as vítimas serem ou estarem acompanhadas de homossexuais, o que tipifica o crime de homofobia.

quarta-feira, 17 de novembro de 2010

EM APENAS 2 MINUTOS JORNALISTA TRAÇA O PERFIL DO MISERÁVEL

É inacreditavel o vídeo postado no you tube, disponibilizado abaixo, mostrando a forma como a pessoa chamada Luiz Carlos Prates enxerga aquilo que ele entende por pessoa pobre, e como se sente superior ao cidadão comum.

De início se verifica que ele parece ter um único conceito do que seja pobreza, já que classifica como miserável aquele cidadão, trabalhador, que com dignidade financia o seu automóvel, paga o IPVA e tem tanto direito de usufruir do objeto adquirido quanto ele ( fato que ele não consegue aceitar, o que fica muito claro no vídeo ).

Parece desconhecer que existem vários tipos de pobreza, a financeira, a cultural, a de espírito, a de sentimento, aquela que se sobressai no exercício de um ofício, e por ai vai.

Em incríveis dois minutos, conforme você verá no vídeo abaixo, ele se posiciona contrário ao cidadão pobre que utilizou a BR 101 no mesmo dia que ele ( de certo queria utiliza-la sozinho ).

Chama de miserável o cidadão que paga ( às custas de muito trabalho ) as prestações do seu automóvel; e, de forma ridícula tenta fazer da leitura de um livro o pressuposto para que um cidadão possa dirigir.

Sua persuasão é tão primária que qualquer pessoa leiga sabe que o pressuposto para dirigir já se encontra na legislação, ou seja, é a habilitação. Se ele quiser modificar este pressuposto, basta aprovar um projeto de lei modificando a legislação para inclusive indicar quais livros devam ser lidos...hahahá.

Ao que parece, o "doutor biblioteca" desconhece que muitas daquelas pessoas que nunca leram um livro, levantam as 5:00 horas da manhã e retornam aos seus lares as 21:00, pois estavam trabalhando, e neste ponto fica nítida a frustração  daquele que pretende desclassificar a moradia, os sentimentos e a família do trabalhador. Por qual motivo ele se acha mais digno do que o cidadão que mora na Cohab por exemplo? Qual o parâmetro de dignidade que ele utiliza?

Ele atribui ao cidadão pobre o sentimento da frustração ( e enquanto defende seu pensamento mostra-se pessoa frustrada com a acensão social alheia ), afirmando que "o  miserável " é um frustrado que não suporta a mulher, o lar, e sai para se distrair; como se o rico fosse uma pessoa calma, comedida, que ama sua mulher e filhos e esquece que a maioria dos casos extra conjugais surgem na classe financeiramente dominante ( até mesmo pela possibilidade financeira de manter vários relacionamentos ). 

Em sua manifestação ele esconde que a maioria dos acidentes fatais é provocada por jovens playboyzinhos drogados ( que embora não representem a classe financeira abastada, fazem parte dela ) que também nunca leram um livro. A diferença é que esses playboyzinhos drogados tiveram a oportunidade de ler, e não o fizeram porque em suas mentes não pensam que nasceram em berço de outro e sim acreditam que nasceram em ventres de ouro, o que é ainda pior, no mínimo por dois motivos: a) primeiro porque não existe ventre de outro e talvez para eles isto seja uma novidade, porém não posso deixar de alerta-los a isso;  b) segundo porque quem nasce pobre não escolheu nascer pobre.

Uma coisa é certa, ele sendo morador do Estado de Santa Catarina ( e eu conheço todo o litoral do Estado de Santa Catarina local da BR 101 ) deve sentir saudades das épocas em que algumas praias daquele Estado eram fechadas por milhonários que impediam o acesso da população local pobre e trabalhadora, e hoje juntamente com outros não se conforma com o posicionamento da Justiça que através de ações movidas pelo Ministério Público vem conseguindo a liberação destes locais  à nós pobres miseráveis. 

Quando estive em Santa Catarina em 2005 me recordo que nem eu, nem a população local podiamos ter acesso a uma praia chamada "Praia Vermelha" e sei que hoje o acesso é liberado. Com certeza não graças ao "doutor biblioteca", que ao falar tanto em livros, talvez tenha lido alguns, cujo título sequer interessa a este ser pensante que aqui escreve pois por opção nunca entrariam na minha estante, e também não devem entrar na sua, leitor crítico dos fatos. 

Literaturas que fomentam o preconceito e fazem com que pessoas de mentes infantis, e frustradas com a acensão do pobre, acreditem ser melhor do que os outros porque leram um livro ou porque compraram um automóvel à vista e não a prazo, é um tipo de literatura que na minha casa encontram um caminho certo e seguro,  a lixeira que fica na entrada do quintal.

 Iehuda Henrique Peres

Luiz Carlos Prates: qualquer miserável agora tem carro

terça-feira, 16 de novembro de 2010

" Ela acreditava em anjo, e porque acreditava, eles existiam"

Clarice tem origem judaica, terceira filha de Pinkouss e de Mania Lispector. A família de Clarice sofreu a perseguição aos  judeus, durante a Guerra Civil Russa de 1918-1921. Seu nascimento ocorreu em Chechelnyk, enquanto percorriam várias aldeias da Ucrânia, antes da viagem de emigração ao continente americano. Chegou no Brasil quando tinha dois meses de idade.

A família chegou a Maceió em março de 1922, sendo recebida por Zaina, irmã de Mania, e seu marido e primo José Rabin. Por iniciativa de seu pai, à exceção de Tania – irmã, todos mudaram de nome: o pai passou a se chamar Pedro; Mania, Marieta; Leia – irmã, Elisa; e Haia, Clarice. Pedro passou a trabalhar com Rabin, já um próspero comerciante.

Clarice Lispector começou a escrever logo que aprendeu a ler, na cidade do Recife, onde passou parte da infância. Falava vários idiomas, entre eles o francês e inglês. Cresceu ouvindo no âmbito domiciliar o idioma materno, o iidiche.

Foi hospitalizada pouco tempo depois da publicação do romance A Hora da Estrela com câncer inoperável no ovário, diagnóstico talvez desconhecido por ela. Faleceu no dia 09 de dezembro de 1977, um dia antes de seu 57° aniversário. Foi inumada no Cemitério Israelita do Caju, no Rio de Janeiro, em 11 de dezembro. 

Clarice é autora de inúmeras frases e pensamentos hoje repetidos em diversos momentos e ocasiões, sem que seus pronunciadores muitas vezes saibam a origem, como:

"Passei a vida tentando corrigir os erros que cometi na minha ânsia de acertar."

"Não tenho tempo pra mais nada, ser feliz me consome muito"

"E se me achar esquisita, respeite também. Até eu fui obrigada a me respeitar."

" Quando se ama não é preciso entender o que se passa lá fora, pois tudo passa a acontecer dentro de nós"

e talvez a mais conhecida, inclusa em seu livro " A Hora da Estrela ", frase que apenas quem leu esta obra, consegue sentir o significado em sua plenitude:

" ela acreditava em anjo, e porque acreditava, eles existiam"

Clarice é considerada por muitos europeus e especialistas em literatura como equivalente a Franz Kafta na literatura latino americana. Fato afirmado em jornais como o " The New York Times ". Sua obra " A Hora da Estrela " é tema de estudos e comparações científicas com a obra " A Metamorfose " de Franz Kafka.

Assista ao curta metragem abaixo, com Wagner Moura e Regina Casé e conheça um pouco sobre Macabéa, a personagem principal desta obra.

Iehuda Henrique Peres

 

A HORA DA ESTRELA - CLARICE LISPECTOR

domingo, 14 de novembro de 2010

" O TRABALHO E O ADVOGADO "


Ao longo do período homérico e nos primeiros tempos do período arcaico vigorava, na sociedade grega, um direito cujas leis (costumes) teriam sido reveladas pelos deuses aos antepassados. Homero fala desse direito quando diz que Zeus dava aos senhores patriarcais “cetro e themis”. Themis significa “lei”. Os senhores patriarcais julgavam de acordo com essa lei (direito consuetudinário) e, nos casos não previstos, conforme o seu próprio saber (Jaeger, 1995: 134). Themis é um direito que antecedeu ao da polis, portanto, um direito cujas regras foram estabelecidas para legitimar o poder dos senhores patriarcais sobre a família (oikos) e a comunidade local (demos).
Oikos é o espaço privado onde predomina as relações familiares. Essas relações são assimétricas (desiguais) porque fundadas na diferença....

leia o texto na íntegra no site:

http://www.conjur.com.br/2010-out-19/direito-nao-acabando-processo-construcao

sexta-feira, 12 de novembro de 2010

AH TÁ, A CULPA É DO LULA...

Panamericano...
Ah tá, a culpa é do Lula...
Chega a causar arrepios à forma como algumas pessoas, jornalistas-comentaristas entendem que falta espírito crítico aos leitores. O mais engraçado, é que a fórmula aplicada é sempre a mesma. Se induz a uma falsa premissa, posteriormente se faz uma pergunta cuja falsa premissa dará a resposta, e pronto, nasceu mais um analista defensor da pátria ( ou de estranhos interesses ).
Tomemos como exemplo o assunto da moda nos noticiários, o caso Banco Panamericano.
Já é comum lermos ( de pessoas tidas como sérias ) colocações que induzem a falsa crença de que o Banco Panamericano foi socorrido pelo governo. Não se fala como o governo teria socorrido o banco do Grupo Silvio Santos, deixando a forma da heróica salvação dada pelo governo à complementação mental de cada um. E ai, cada um pensa de acordo com os gibis que leu na infância. Uns podem imaginar um super-herói com um B.C. ( de Banco Central ) no peito e na capa, puxando o S.S. pela mão e tirando-o do atoleiro. Uns podem imaginar um super-herói barbudo assinando um cheque e entregando ao homem do baú. Cada um cria a solução que achar conveniente. Esse vazio proposital deixado por alguns comentaristas, facilita a aceitação de suas teses, pois cada leitor completará a matéria da forma que inconscientemente mais lhe agradar...
Outros, de formas menos explícitas, mas também indutoras de opinião fazem questionamentos tendenciosos perguntando como é que a CEF sai por ai comprando banco?
Será que realmente acreditam que a direção da CEF em um belo dia após o café da manhã entre os seus executivos decidiu assim: Hoje vamos comprar participações em um banco, ok?! Vamos ao mercado ver o que mais atraia nossos sentidos, adquirimos e pronto...
Que tal comprarmos parte do banco do homem do baú?
Não percebem que qualquer aquisição somente é feita mediante análises técnicas... ou percebem mas não falam?
Fato é que as auditorias não constataram o ocorrido, outras instituições particulares e financeiras se associaram ao grupo antes mesmo da CEF, e a operação entre a CEF e o Banco Panamericano elevaram a nota do banco junto a instituições de análise de mercado internacionais. Ora, com tudo isso a favor, e se empresas privadas e com um corpo técnico sofisticado avalizavam o Banco Panamericano, a pergunta de tais pseudos-analistas deixa de fazer sentido... “ao menos técnico”.
Pensemos o seguinte...
Você e seu ( ou sua ) cônjuge possuem conta conjunta. O  cônjuge emite um cheque que não terá provisão de fundos. Você fica sabendo. É possível perceber apenas duas saídas:
a) ou você assume a situação;
b) ou deixa a conta corrente fechar e põe a culpa no seu cônjuge.  
Você faz a opção b): deixa a conta corrente fechar. Seria o mesmo que o empresário SS deixar que o seu banco sofresse intervenção e resolver a situação como certos bancos do passado fizeram, cujos resultados aos diretores todos nós conhecemos...
Você faz a opção a) mesmo não tendo emitido o cheque, sente que deve assumir a responsabilidade pelo erro do seu cônjuge, afinal você não assinou o cheque, mas o seu nome também esta ali. No caso do banco Panamericano foi o ocorrido ( isso é uma realidade que deve ser aceita, goste-se ou não do SS, a verdade é que o seu posicionamento deu credibilidade ao seu nome - bem ao contrário do que certas pessoas que são campeãs em falir, cujos sobrenomes alguns fracos da mente costumam chamar de familia tradicional - como se nós mortais não tivessemos tido um tataravô!). Assim que tomou ciência da situação, o empresário passou a buscar pessoalmente uma solução para o problema.
Voltanto ao nosso cheque sem fundos. Para você resolver o problema, sabe que vender o seu carro e a sua casa possibilitaria pagar o débito que seu cônjuge fez, porém a liquidez não é imediata, e você precisa achar a solução. De novo duas opções:
a) Você pega com seus pais, sabendo que dará justo motivo para reclame de seus irmãos ( ou do povo );  
b) Você pega o dinheiro emprestado com o vizinho, e ai terá que dar o seu patrimônio em garantia da dívida ( o carro e a casa ).
Você decidiu pegar o dinheiro com o vizinho. Optou por uma saída mais arriscada, porém de maior crédito ao seu nome e muito mais honrada. No caso do Banco Panamericano, o empresário Silvio Santos pegou o dinheiro emprestado com o vizinho ( Fundo Garantidor - que é privado! ) e deu os seus bens como garantia. Portanto, não há de se falar em dinheiro do Estado para cobrir rombos do empresário SS. Tampou se falar que o Estado encheu o Baú do Silvio de felicidade..., pois o fundo que emprestou o dinheiro é um fundo privado, não é público, e isto deve ficar muito claro.
O que existe é um empresário que ao saber do ocorrido, tomou dinheiro emprestado para honrar o nome de suas empresas ( algo raro ), dando o seu patrimônio em garantia ( algo que só não é impossível pois acabamos de ver isto ocorrer )!!!
Portanto...
 Afirmações descaradamente fora da realidade servem apenas para aprendermos e decorarmos o nome de pessoas que:
a)      Não aceitam que os dias evoluem;
b)      Não aceitam que o sistema financeiro amadureceu;
c)       Não aceitam que um empresário e um Presidente da República podem conversar sem  expúrias intenções;
d)      Não aceitam que possa existir empresário que  se importa mais com a credibilidade do seu nome, do que com o patrimônio de suas empresas;
e)      Trazem aos jornais escritos ou televisivos questionamentos distorcidos da realidade, com o único objetivo de prejudicar a imagem de um concorrente, prejudicar uma empresa, prejudicar a imagem de  um governo ou de suas instituições públicas;
Analisemos com cautela declarações, afirmações e induções, pois é apenas com uma leitura criteriosa que cada um de nós estará fazendo um bem ao Brasil. Somente o ostracismo a esses falsos e tendenciosos comentarias poderá  fazer da imprensa algo um pouco mais sério.  
Iehuda Peres

quinta-feira, 11 de novembro de 2010

"S O F I A"


Escrever para você,
Não é fácil ao papai.
Passo horas a pensar,
O dia vem, o dia vai...

Das meninas é a mais linda,
No mar ou de cachecol.
Alegria da minha vida,
Os seus olhos são meu sol.

Um dia, já sendo mãe,
Esta carta, irás ler.
E dirás a sua cria,
Sou feliz por ter você!

Quem dera, eu fosse uma brisa,
Em um dia de calor.
Soprando em seus ouvidos,
Minha filha és meu amor!


papai Iehuda em 24 de agosto de 2010.

quarta-feira, 10 de novembro de 2010

L A Ç O S

O vídeo abaixo tem a grandeza de nos lembrar de uma forma muito sutil, que alguns "laços" ultrapassam a existência humana. Impossível não se emocionar em alguns trechos como:

Afirmação de um profundo laço existente entre ambos:
"Eu prefiro os laços firmes, aqueles mais difíceis de se fazer e de se desfazer; mas que quando feitos e depois desfeitos, podem se olhar para si próprios e dizer: - Eu fui um grande laço...

A explicação de que alguns laços são eternos:
... é bobagem chorar por laços que parecem desfeitos mas que continuam firmes, alguns laços são teimosos, as vezes a gente pensa: - Puxa lá se foi ele, mas ele vai estar sempre ali, como alguns amores...

Momento em que a personagem de forma inconsciente confirma que o laço existente entre ambos é eterno, recebendo como resposta: Lindo, o laço ( existente entre eles ):
"... lugar nenhum me interess mais agora que ele não esta mais em lugar nenhum..."


Este curta metragem mostra que a criatividade cinematográfica é capaz de produzir cenas de profundo  e verdadeiro amor; ou seja, ainda há esperança, pois existe algo muito superior ao programas policialescos, as novelas carreadas de cenas de sexo e aos filmes repletos de violência.


Iehuda Peres

Laços (Ties) - Project: Direct

terça-feira, 9 de novembro de 2010

"A PROVA DO CRIME ( E VICE-VERSA )"

Palhaçada tem limites: que cabeça pode ter o Tiririca para se submeter a um exame de escolaridade mínima justo na semana em que as provas de avaliação do ensino médio despencaram de vez em credibilidade em todo território nacional. Quem garante, por exemplo, que o material gráfico recolhido de próprio punho do dublê de palhaço e deputado não será trocado ou extraviado a caminho da apreciação do mérito do examinado?

Se, num concurso público federal para milhões de alfabetizados, a organizãção das provas comete erros como questões duplicadas, folhas repetidas e troca de cabeçalhos, imagina o que não pode acontecer no ditado a portas fechadas a que o abestado será submetido depois de amanhã em fórum de São Paulo.

A prova do crime de falsidade ideológica de Tiririca está, desde o ultimo fim de semana, sob o manto do descrédito geral dos métodos de exame no Brasil. Provas, depois do Enem, não provam mais nada, a não ser contra si mesmas. Mais eneficaz e vexatório - cá pra nós, que não sabemos o que é isso - só o tal " teste da farinha", dizem!

( Tutty Humor - O Estado de São Paulo - 09/11/2010)

domingo, 7 de novembro de 2010

O FALSO REI E SEU NARIZ DE PALHAÇO

É interessante observar como  existem pessoas que possuem a ultrapassada idéia de colonização. Esta idéia pode ser facilmente traduzida por uma simples fórmula:  “ A é melhor do que B ”, onde o colonizador é “A”  e o colonizado é “B”.
O colonizador normalmente se utiliza deste tipo de fórmula com a finalidade de sustentar teses que por si só não se sustentam; então, como argumento final ele dispara algo inserido no seu espírito, traz o que acredita ser à cartada final de um jogo de baralhos, e uma crença da qual talvez ele realmente sente-se convencido, ou seja, ele acha que ...
... é melhor porque é rico, então a culpa é do pobre; ...é melhor porque é branco, então a culpa é do negro; ... é melhor porque tem curso superior, então a culpa é dos analfabetos; ...é melhor porque é homem, então a culpa é da mulher; ...é melhor porque é heterossexual, então a culpa é do homossexual; ...é melhor porque é o patrão, então a culpa é do empregado; ...é melhor porque é do sul, então a culpa é do nordestino...
Infelizmente, mal terminado o pleito eleitoral pudemos ver como a fórmula acima está enraizada em determinadas pessoas, que por força da emoção demonstraram ausência de razão, visão distorcida da democracia, sentimento infantilizado de não aceitação da derrota e espírito de colonizador colonizado.
A emoção pode ser traduzida como uma excitação mental momentânea, a qual, por vivermos em sociedade, deve ser vivida na intensidade compatível com o momento, local e situação presentes em um determinado momento. A completa exclusão do sentimento de emoção tornaria o ser humano estéril em desejos e reações. Porém  sua vivência de forma imoderada ou incompatível com o momento, local e situação, levam um cidadão a cometer exposições grosseiras, como a de certos bloguistas e twuiteiros. Constata-se que normalmente a arrogância encontra-se ligada ao uso inadequado da emoção.
Exemplo é o conto de Sófocles o dramaturgo grego que entre outras peças teatrais escreveu Édipo Rei. Édipo, abandonado após o nascimento, certa vez procurou um oráculo para saber a sua identidade, e recebeu a aterrorizante informação de que mataria seu pai e defloraria Jocasta sua mãe. Sabedor da predestinação dada pelos deuses, deveria  ele ter sido prudente. A prudência seria um caminho para a utilização da razão ao invés da emoção de tal sorte que sabedor do seu destino jamais deveria matar um homem com idade para ser seu pai e tão pouco desposar uma mulher com idade para ser sua mãe. Entretanto, narra Sófocles que Édipo certa vez caminhando cruzou com um homem ( Édipo não sabia que aquele homem era o Rei , não sabia que o Rei era seu pai  ) cujos auxiliares determinaram a Édipo que abrisse o caminho e desse passagem. Mas Édipo era arrogante. Não deu passagem, deixou-se dominar pela emoção exacerbada, quis mostrar que era melhor ao menos na arte da violência, matou aquele homem, matou o Rei, matou seu pai.
Já a razão esta ligada ao raciocínio, aquilo que diferencia o homem dos outros animais e o faz entender e distinguir o verdadeiro do falso. O poeta grego Homero narra às aventuras do jovem Ulisses. O poema Odisséia narra a utilização da razão para o bem viver da emoção. Em sua viagem, Ulisses enfrentou a terra dos Ciclopes, a ilha de Éolo, o Reino do Inferno e outras aventuras, mas ainda faltava-lhe a maior das emoções, ele queria conhecer    “o canto das sereias”. As sereias eram criaturas com várias cabeças que atraiam os marinheiros com uma sedutora voz feminina. A voz enfeitiçava os marinheiros de tal forma que ao ouvi-la era impossível deixar de caminhar ao encontro da musa sedutora, para ao final serem por ela devorados. ( ainda hoje é comum ouvirmos frases do tipo: fulano se deixou levar pelo canto da sereia e perdeu tudo ). Mas Ulisses era prudente e sua prudência o levou a ser o único marinheiro a ouvir o canto das sereias sem ser por elas devorado. No poema, Homero narra que Ulisses teria ordenado aos seus marinheiros que: a) o amarrassem junto ao mastro do navio; b) colocassem cera nos ouvidos  ( dos marinheiros ).  A utilização da razão surtiu-lhe efeito positivo de tal forma que ao ouvir o canto da sereia e  implorar aos marinheiros que levassem  o navio ao encontro daquela voz sedutora, não foi ouvido ( já que os marinheiros estavam com os ouvidos tapados com cera ), obrigando-se então a amarrado ao mastro, ouvir o canto sem nada poder fazer. Desta forma, aquilo que os deuses predestinaram aos marinheiros não alcançou Ulisses cuja razão pautou suas ações para o bom viver da emoção.
No entanto, faltou razão a muitas pessoas após o resultado do pleito eleitoral, e a emoção jorrou exacerbada na internet, tendo sido inclusive motivo de acertada manifestação do Ministério Público para apuração de supostas práticas de racismo, por falsos Reis que colocaram em blogs ou twitter frases do tipo: “ Nordestino não é gente, faça um favor a SP, mate um nordestino afogado”, “ Nordestinos FDP!!! Invasores do nosso maravilhoso litoral norte, devastadores das nossas reservas florestais ...” O mais interessante e apenas a título de curiosidade, são pessoas cuja origem familiar sequer remonta aos antepassados brasileiros, portanto, o Brasil é muito menos deles e muito mais dos nordestinos ( exemplo dos sobrenomes Colli e Petruso cujos textos acima foram escritos por pessoas dessas famílias de origem Italiana ). Minha família também não tem origem no Brasil, como a grande maioria não tem; porém este fator me faz amar ainda mais este meu país que outrora acolheu tão dignamente os meus ascendentes.
Aqui, não tenho qualquer intenção de discutir o âmbito partidário ou penal da situação, mas enfocar a discussão na dificuldade das pessoas em viver em sociedade. Sendo um país democrático, todo cidadão, sem qualquer exceção deve respeito à decisão da “Assembléia” que pelo voto direto escolheu que o Estado de São Paulo deve ser governado pelo partido “A” e União pelo partido “B”; isto é o mínimo que se espera de pessoas civilizadas. Entretanto, demonstrando um sentimento infantilizado ( como das crianças que não aceitam “ saber que não terá sobremesa para comer”) e no calor da emoção, sem ponderação, prudência ou razão, pessoas passaram a agredir o povo nordestino pela internet, e pior, alguns profissionais jurídicos, como advogado e estagiária de direito ( como nos textos acima citados ), ou seja,  aqueles que ao menos deveriam ter aprendido nos bancos da faculdade exatamente o contrário, pois o direito é uma ciência humana.
A reflexão proposta aqui é muito maior do que o espírito racista de determinadas pessoas. Também não é necessário lembrar que o nordeste é um celeiro da cultura do nosso país, que Rui Barbosa, eleito a maior personalidade brasileira de todos os tempos nasceu na Bahia, assim como Jorge Amado. Que a primeira faculdade do Brasil foi a Faculdade de Medicina da Bahia, que a primeira faculdade de direito foi criada em Pernambuco, que Aurélio Buarque de Holanda era alagoano, assim como tantos e inúmeros nordestinos. Também não quero pontuar a reflexão no progresso que o povo nordestino trouxe a São Paulo, povo sem o qual esta cidade jamais teria a infra-estrutura que a tornou principal cidade da América do Sul, pois isto é fato notório, e o que é notório dispensa apresentação.
Minha reflexão é um pouco mais profunda, toca a identidade de colono enraizada em parte da nossa sociedade. Quando uma estagiária demonstra acreditar na sua superioridade pelo simples fato de ser sulista, ela não percebe que a lógica infantil do seu raciocínio converge contra ela mesma. É triste perceber que uma mulher estudante de direito não vê que ao fomentar o seu “ suposto” estado de colonizadora por ser sulista, está fomentando o seu “ suposto “ estado de colona, por ser pobre, empregada, mulher. É triste ver que uma estudante estagiária de direito não consegue perceber que nós, paulistas, cariocas, nordestinos, sulistas, lutamos para que a sua dignidade de mulher, empregada, pobre, seja respeitada, pois acima de tudo isto se encontra a dignidade do ser humano!
       Será que aquele advogado que postou ofensa aos nordestinos não percebe que ele está sustentando por vias transversas as ultrapassadas teses de colonização do direito nacional pelo direito estrangeiro? Será que ele realmente acredita que o direito Frances, Italiano ou Alemão é superior ao nosso? Pois se ele entende que uma sociedade possui pessoas superiores a outras, é porque acredita na teoria da evolução pela linha do tempo, segundo a qual um local é mais desenvolvido do que o outro simplesmente por supostamente ser culturalmente mais antigo ( no caso ele entende que o sul é mais desenvolvido que o norte ) e em conseqüência do seu pensamento infantil acaba sustentando que a Europa seria um continente superior ao da América do Sul, e nós ( incluindo ele ) seríamos então súditos do velho rei!  Pior é perceber que alguns aceitarão esta tese, como se aquilo que vem da Europa  é superior ao que existe na América do Sul. Porém basta um olhar um pouco mais crítico para perceber que existe apenas uma troca de cultura entre nações e que a ultrapassada tese colonizadora  não se sustenta defronte a capacidade tecnológica e financeira dos EUA frente a Inglaterra.
A reflexão sugerida é mais profunda, a pergunta que deve ser feita para que a sociedade possa evoluir é: até quando teremos adultos que reduzindo à exacerbação emocional seus pensamentos infantis, continuarão acreditando na superioridade humana apenas por causa do local do seu nascimento, da cor da sua pele, do sexo ou da mísera quantidade de dinheiro que possuem? Nossa sociedade precisa amadurecer. Enquanto continuar existindo o espírito de colono-colonizado, pessoas continuarão tendo a falsa ilusão de que são Reis, sem perceber que na corte se enfeitam com um nariz de palhaço, se vestem com trapos de arrogância; erram no uso da razão e da emoção, e causam tristeza a este simples cidadão...

                                                                                        Iehuda Henrique Peres