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Professor, Advogado, Especialista em Direito Constitucional pela Escola Paulista de Direito, Pós Graduado em Direito Constitucional e Administrativo, sócio fundador da Peres e Almeida Advogados Associados, sócio fundador da Bait Iehuda Condomínios, Membro do GEA - Grupo de Estudos Avançados do Complexo Jurídico Damásio de Jesus, fundador e Conselheiro Vitalício do IPAM - Instituto Paulista dos Advogados Maçons

domingo, 7 de novembro de 2010

O FALSO REI E SEU NARIZ DE PALHAÇO

É interessante observar como  existem pessoas que possuem a ultrapassada idéia de colonização. Esta idéia pode ser facilmente traduzida por uma simples fórmula:  “ A é melhor do que B ”, onde o colonizador é “A”  e o colonizado é “B”.
O colonizador normalmente se utiliza deste tipo de fórmula com a finalidade de sustentar teses que por si só não se sustentam; então, como argumento final ele dispara algo inserido no seu espírito, traz o que acredita ser à cartada final de um jogo de baralhos, e uma crença da qual talvez ele realmente sente-se convencido, ou seja, ele acha que ...
... é melhor porque é rico, então a culpa é do pobre; ...é melhor porque é branco, então a culpa é do negro; ... é melhor porque tem curso superior, então a culpa é dos analfabetos; ...é melhor porque é homem, então a culpa é da mulher; ...é melhor porque é heterossexual, então a culpa é do homossexual; ...é melhor porque é o patrão, então a culpa é do empregado; ...é melhor porque é do sul, então a culpa é do nordestino...
Infelizmente, mal terminado o pleito eleitoral pudemos ver como a fórmula acima está enraizada em determinadas pessoas, que por força da emoção demonstraram ausência de razão, visão distorcida da democracia, sentimento infantilizado de não aceitação da derrota e espírito de colonizador colonizado.
A emoção pode ser traduzida como uma excitação mental momentânea, a qual, por vivermos em sociedade, deve ser vivida na intensidade compatível com o momento, local e situação presentes em um determinado momento. A completa exclusão do sentimento de emoção tornaria o ser humano estéril em desejos e reações. Porém  sua vivência de forma imoderada ou incompatível com o momento, local e situação, levam um cidadão a cometer exposições grosseiras, como a de certos bloguistas e twuiteiros. Constata-se que normalmente a arrogância encontra-se ligada ao uso inadequado da emoção.
Exemplo é o conto de Sófocles o dramaturgo grego que entre outras peças teatrais escreveu Édipo Rei. Édipo, abandonado após o nascimento, certa vez procurou um oráculo para saber a sua identidade, e recebeu a aterrorizante informação de que mataria seu pai e defloraria Jocasta sua mãe. Sabedor da predestinação dada pelos deuses, deveria  ele ter sido prudente. A prudência seria um caminho para a utilização da razão ao invés da emoção de tal sorte que sabedor do seu destino jamais deveria matar um homem com idade para ser seu pai e tão pouco desposar uma mulher com idade para ser sua mãe. Entretanto, narra Sófocles que Édipo certa vez caminhando cruzou com um homem ( Édipo não sabia que aquele homem era o Rei , não sabia que o Rei era seu pai  ) cujos auxiliares determinaram a Édipo que abrisse o caminho e desse passagem. Mas Édipo era arrogante. Não deu passagem, deixou-se dominar pela emoção exacerbada, quis mostrar que era melhor ao menos na arte da violência, matou aquele homem, matou o Rei, matou seu pai.
Já a razão esta ligada ao raciocínio, aquilo que diferencia o homem dos outros animais e o faz entender e distinguir o verdadeiro do falso. O poeta grego Homero narra às aventuras do jovem Ulisses. O poema Odisséia narra a utilização da razão para o bem viver da emoção. Em sua viagem, Ulisses enfrentou a terra dos Ciclopes, a ilha de Éolo, o Reino do Inferno e outras aventuras, mas ainda faltava-lhe a maior das emoções, ele queria conhecer    “o canto das sereias”. As sereias eram criaturas com várias cabeças que atraiam os marinheiros com uma sedutora voz feminina. A voz enfeitiçava os marinheiros de tal forma que ao ouvi-la era impossível deixar de caminhar ao encontro da musa sedutora, para ao final serem por ela devorados. ( ainda hoje é comum ouvirmos frases do tipo: fulano se deixou levar pelo canto da sereia e perdeu tudo ). Mas Ulisses era prudente e sua prudência o levou a ser o único marinheiro a ouvir o canto das sereias sem ser por elas devorado. No poema, Homero narra que Ulisses teria ordenado aos seus marinheiros que: a) o amarrassem junto ao mastro do navio; b) colocassem cera nos ouvidos  ( dos marinheiros ).  A utilização da razão surtiu-lhe efeito positivo de tal forma que ao ouvir o canto da sereia e  implorar aos marinheiros que levassem  o navio ao encontro daquela voz sedutora, não foi ouvido ( já que os marinheiros estavam com os ouvidos tapados com cera ), obrigando-se então a amarrado ao mastro, ouvir o canto sem nada poder fazer. Desta forma, aquilo que os deuses predestinaram aos marinheiros não alcançou Ulisses cuja razão pautou suas ações para o bom viver da emoção.
No entanto, faltou razão a muitas pessoas após o resultado do pleito eleitoral, e a emoção jorrou exacerbada na internet, tendo sido inclusive motivo de acertada manifestação do Ministério Público para apuração de supostas práticas de racismo, por falsos Reis que colocaram em blogs ou twitter frases do tipo: “ Nordestino não é gente, faça um favor a SP, mate um nordestino afogado”, “ Nordestinos FDP!!! Invasores do nosso maravilhoso litoral norte, devastadores das nossas reservas florestais ...” O mais interessante e apenas a título de curiosidade, são pessoas cuja origem familiar sequer remonta aos antepassados brasileiros, portanto, o Brasil é muito menos deles e muito mais dos nordestinos ( exemplo dos sobrenomes Colli e Petruso cujos textos acima foram escritos por pessoas dessas famílias de origem Italiana ). Minha família também não tem origem no Brasil, como a grande maioria não tem; porém este fator me faz amar ainda mais este meu país que outrora acolheu tão dignamente os meus ascendentes.
Aqui, não tenho qualquer intenção de discutir o âmbito partidário ou penal da situação, mas enfocar a discussão na dificuldade das pessoas em viver em sociedade. Sendo um país democrático, todo cidadão, sem qualquer exceção deve respeito à decisão da “Assembléia” que pelo voto direto escolheu que o Estado de São Paulo deve ser governado pelo partido “A” e União pelo partido “B”; isto é o mínimo que se espera de pessoas civilizadas. Entretanto, demonstrando um sentimento infantilizado ( como das crianças que não aceitam “ saber que não terá sobremesa para comer”) e no calor da emoção, sem ponderação, prudência ou razão, pessoas passaram a agredir o povo nordestino pela internet, e pior, alguns profissionais jurídicos, como advogado e estagiária de direito ( como nos textos acima citados ), ou seja,  aqueles que ao menos deveriam ter aprendido nos bancos da faculdade exatamente o contrário, pois o direito é uma ciência humana.
A reflexão proposta aqui é muito maior do que o espírito racista de determinadas pessoas. Também não é necessário lembrar que o nordeste é um celeiro da cultura do nosso país, que Rui Barbosa, eleito a maior personalidade brasileira de todos os tempos nasceu na Bahia, assim como Jorge Amado. Que a primeira faculdade do Brasil foi a Faculdade de Medicina da Bahia, que a primeira faculdade de direito foi criada em Pernambuco, que Aurélio Buarque de Holanda era alagoano, assim como tantos e inúmeros nordestinos. Também não quero pontuar a reflexão no progresso que o povo nordestino trouxe a São Paulo, povo sem o qual esta cidade jamais teria a infra-estrutura que a tornou principal cidade da América do Sul, pois isto é fato notório, e o que é notório dispensa apresentação.
Minha reflexão é um pouco mais profunda, toca a identidade de colono enraizada em parte da nossa sociedade. Quando uma estagiária demonstra acreditar na sua superioridade pelo simples fato de ser sulista, ela não percebe que a lógica infantil do seu raciocínio converge contra ela mesma. É triste perceber que uma mulher estudante de direito não vê que ao fomentar o seu “ suposto” estado de colonizadora por ser sulista, está fomentando o seu “ suposto “ estado de colona, por ser pobre, empregada, mulher. É triste ver que uma estudante estagiária de direito não consegue perceber que nós, paulistas, cariocas, nordestinos, sulistas, lutamos para que a sua dignidade de mulher, empregada, pobre, seja respeitada, pois acima de tudo isto se encontra a dignidade do ser humano!
       Será que aquele advogado que postou ofensa aos nordestinos não percebe que ele está sustentando por vias transversas as ultrapassadas teses de colonização do direito nacional pelo direito estrangeiro? Será que ele realmente acredita que o direito Frances, Italiano ou Alemão é superior ao nosso? Pois se ele entende que uma sociedade possui pessoas superiores a outras, é porque acredita na teoria da evolução pela linha do tempo, segundo a qual um local é mais desenvolvido do que o outro simplesmente por supostamente ser culturalmente mais antigo ( no caso ele entende que o sul é mais desenvolvido que o norte ) e em conseqüência do seu pensamento infantil acaba sustentando que a Europa seria um continente superior ao da América do Sul, e nós ( incluindo ele ) seríamos então súditos do velho rei!  Pior é perceber que alguns aceitarão esta tese, como se aquilo que vem da Europa  é superior ao que existe na América do Sul. Porém basta um olhar um pouco mais crítico para perceber que existe apenas uma troca de cultura entre nações e que a ultrapassada tese colonizadora  não se sustenta defronte a capacidade tecnológica e financeira dos EUA frente a Inglaterra.
A reflexão sugerida é mais profunda, a pergunta que deve ser feita para que a sociedade possa evoluir é: até quando teremos adultos que reduzindo à exacerbação emocional seus pensamentos infantis, continuarão acreditando na superioridade humana apenas por causa do local do seu nascimento, da cor da sua pele, do sexo ou da mísera quantidade de dinheiro que possuem? Nossa sociedade precisa amadurecer. Enquanto continuar existindo o espírito de colono-colonizado, pessoas continuarão tendo a falsa ilusão de que são Reis, sem perceber que na corte se enfeitam com um nariz de palhaço, se vestem com trapos de arrogância; erram no uso da razão e da emoção, e causam tristeza a este simples cidadão...

                                                                                        Iehuda Henrique Peres

3 comentários:

  1. Iehuda, acertou na mosca e no nariz do palhaço!

    Parabéns , muito bem redigido!

    abraço

    Leon

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  2. Yehuda, você falou o que ninguém consegue perceber.

    Parabéns

    Paula de Mello Abrantes

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  3. Não há o que acrescentar, falou a pura verdade. Infelizmente temos um povo que gosta de ser colonia a mais de 500 anos.


    Diego

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