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Professor, Advogado, Especialista em Direito Constitucional pela Escola Paulista de Direito, Pós Graduado em Direito Constitucional e Administrativo, sócio fundador da Peres e Almeida Advogados Associados, sócio fundador da Bait Iehuda Condomínios, Membro do GEA - Grupo de Estudos Avançados do Complexo Jurídico Damásio de Jesus, fundador e Conselheiro Vitalício do IPAM - Instituto Paulista dos Advogados Maçons

segunda-feira, 27 de dezembro de 2010

Edipo Rei - 3a. Parte

Continuação do dia 20/12/2010


No trecho de hoje, Édipo começa a desconfiar que matou seu pai e casou-se com sua mãe. Jocasta revela a Édipo que Laio consultara o oráculo recebendo deste a visão de seu trágico fim.


Entra CREONTE, possuído de forte irritação

CREONTE: Cidadãos! Acabo de saber que Édipo formulou contra mim gravíssimas acusações, que eu não posso admitir! Aqui estou para me defender! Se, no meio da desgraça que nos aflige, ele supõe que eu o tenha atacado, por palavras ou atos, não quero permanecer sob o vexame de semelhante suspeita, pois para mim isso não seria ofensa de somenos valor, mas sim uma profunda injúria, qual a de ser por vós, e por meus amigos, considerado um traidor!

CORIFEU: Talvez essa acusação injuriosa lhe tenha sido ditada pela cólera momentânea, e não pela reflexão.

CREONTE: Quem teria insinuado a Lúdipo que por meu conselho o adivinho proferiu aquelas mentiras?

CORIFEU: Realmente, ele assim declarou, mas não sei com que fundamento. `

CREONTE: E foi com olhar sereno e raciocínio seguro que ele ergueu tal denúncia?

CORIFEU: Não sei dizer... Não posso penetrar no íntimo dos poderosos; mas... ei-lo que sai do palácio.

Entra ÉDIPO, bruscamente

ÉDIPO: Que vieste fazer aqui? Tens coragem de vir a minha casa, tu, que conspiras contra minha vida, e pretendes arrancar-me o poder? Vamos! Dize-me, pelos deuses! pensas tu, por acaso, que eu seja um covarde, ou um demente, para conceberes tais projetos? Supunhas que eu nunca viesse a saber de tuas ações secretas, e que não as punisse logo que fossem descobertas? Não será intento de um louco pretender, sem riqueza e sem prosélitos, uma autoridade que somente nos podem dar o povo e a fortuna?

CREONTE: Sabes o que importa fazer? Deixa-me responder a tuas palavras de igual para igual, e só me julgues depois de me teres ouvido!

ÉDIPO: Tu és hábil em manobrar a palavra; mas eu não me sinto disposto a ouvir-te, sabendo que tenho em ti um inimigo perigoso.

CREONTE: A tal respeito, ouve o que te quero dizer.
ÉDIPO: Sim; ouvirei; mas não insistas em afirmar que não és culpado.

CREONTE: Tu te enganas, se crés que a teimosia seja uma virtude.

ÉDIPO: E tu não te iludas pensando que ofenderás a um parente, sem que recebas o devido castigo.

CREONTE: De acordo; tens razão nesse ponto; mas dize-me qual foi a ofensa que te fiz!

ÉDIPO: Foste tu, ou não, quem me aconselhou a mandar vir esse famoso profeta?

CREONTE: Sim; e mantenho minha opinião acerca dele.

ÉDIPO: Há quanto tempo Laio...

CREONTE: Mas que fez ele? Não compreendo!...

ÉDIPO: ...Desapareceu, vítima de um assassino?

CREONTE: Já lá se vão muitos anos!

ÉDIPO: E já nesse tempo Tirésias exercitava sua ciência?

CREONTE: Sim; ele já era, então, sábio e respeitado.

ÉDIPO: E, nessa época, disse ele alguma coisa a meu respeito?

CREONTE: Nunca! pelo menos em minha presença.

ÉDIPO: E vós não fizestes pesquisas a fim de apurar o crime?

CREONTE: Fizemos, certamente, mas nada se descobriu.

ÉDIPO: Como se explica, pois, que esse homem tão hábil, não tivesse dito então o que diz hoje?

CREONTE: Não sei; e, quando desconheço uma coisa, prefiro calar-me!

ÉDIPO: Tu não ignoras, no entanto, e deves em plena consciência confessar...

CREONTE: Que devo eu confessar? Tudo o que souber, direi!

ÉDIPO: ...Que, se ele não estivesse de conluio contigo, nunca viria dizer que a morte de Laio foi crime por mim cometido.

CREONTE: Que ele disse, tu bem sabes. Mas também eu tenho o direito de te dirigir algumas perguntas.

ÉDIPO: Pois interroga-me! Tu não me convencerás de que haja sido eu o assassino.

CREONTE: Ora vejamos: tu desposaste minha irmã?

ÉDIPO: É impossível responder negativamente a tal pergunta.

CREONTE: E reinas tu neste país com ela, que partilha de teu poder supremo?

ÉDIPO: Sim; e tudo o que ela deseja, eu imediatamente executo.

CREONTE: E não serei eu igualmente poderoso, quase tanto como vós?

ÉDIPO: Sim; e por isso mesmo é que pareces ser um pérfido amigo.


CREONTE: Não, se raciocinares como eu. Examina este primeiro ponto: acreditas que alguém prefira o trono, com seus encargos e perigos, a uma vida tranqüila, se também desfruta poder idêntico? Por minha parte, ambiciono menos o título de rei, do que o prestígio real; e como eu pensam todos quantos saibam limitar suas ambições. Hoje alcanço de ti tudo quanto desejo: e nada tenho a temer... Se fosse eu o rei, muita coisa, certamente, faria contra aminha vontade... Como, pois, iria eu pretender a realeza, em troca de um valimento que não me causa a menor preocupação? Não me julgo tão insensato que venha a cobiçar o que não seja para mim, ao mesmo tempo honroso e proveitoso. Atualmente, todos me saúdam, todos me acolhem com simpatia; os que algo pretendem de ti, procuram conseguir minha intercessão; para muitos é graças a meu patrocínio que tudo se resolve. Como, pois, deixar o que tenho, para pleitear o que dizes? Tamanha perfídia seria também uma verdadeira tolice! Não me seduz esse projeto; e, se alguém se propusesse a tentá-lo, eu me oporia à cuja realização. Eis a prova do que afirmo: vai tu mesmo a Delfos e procura saber se eu não transmiti fielmente a resposta do oráculo. Eis outra indicação: se tu provares que eu estou de concerto com o  adivinho, condenar-me-ás à morte não por um só voto, mas por dois: o teu e o meu. Não me acuses baseado em vagas suspeitas, sem me ouvir primeiro. Não é lícito julgar levianamente como perversos, os homens íntegros, assim como não é justo considerar íntegros os homens desonestos. Rejeitar um amigo fiel, penso eu, equivale a desprezar a própria vida, esse bem tão precioso! O tempo fará com que reconheças tudo isso com segurança, pois só ele nos pode revelar quando os homens são bons, ao passo que um só dia basta para evidenciar a maldade dos maus.

CORIFEU: Para quem, sinceramente, quer evitar a injustiça, ele muito bem te falou, ó rei. É sempre falível o julgamento de quem decide sem ponderação!

ÉDIPO: A fim de revidar um ataque às ocultas urdido contra mim, devo estar pronto, sempre, para a defesa. Se eu esperar tranqüilamente, os planos deste homem serão realizados, e os meus fracassarão.

CREONTE: Que pretendes tu, nesse caso? Exilar-me do país?

ÉDIPO: Não!; tua morte, e não apenas o desterro o que eu quero.

CREONTE: Mas... quando puderes comprovar que eu conspiro contra ti!

ÉDIPO: Falas como quem se dispõe a não obedecer?

CREONTE: Sim, porque vejo que não estás deliberando com discernimento.

ÉDIPO: Só eu sei o que me convém fazer, no meu interesse.

CREONTE: Mas, nesse caso, também o meu interesse deve ser atendido!

ÉDIPO: Mas tu és um traidor!

CREONTE: E se o que afirmas não for verdade?

ÉDIPO: Seja como for, eu devo ser obedecido!

CREONTE: Não, se ordenares o que não for justo!

ÉDIPO: Ó cidade de Tebas!

CREONTE: Também eu posso convocar a cidade; ela não é tua, exclusivamente!

O CORO: Acalmai-vos, ó Príncipes! Muito a propósito vem ter convosco a rainha Jocasta; vejo-a neste momento sair do palácio: Ela dará, certamente, a vosso dissídio, feliz solução.

Entra JOCASTA

JOCASTA: Por que provocastes, infelizes, esse imprudente debate? Não vos envergonhais em discutir questões íntimas, no momento em que atroz calamidade cai sobre o país? Volta a teu palácio, Édipo; e tu, Creonte, a teus aposentos. Não exciteis, com palavras vãs, uma discórdia funesta.

CREONTE: Édipo, teu marido, ó minha irmã, julga acertado tratar-me cruelmente, impondo-me ou o desterro para longe da pátria, ou a morte.
ÉDIPO: É verdade, minha esposa. Acusei-o de conspirar contra a minha pessoa.

CREONTE: Que seja eu desgraçado! Que morra maldito se cometi a perfídia de que me acusas!

JOCASTA: Pelos deuses, Édipo, - crê no que ele te diz! E crê, não só pelo juramento que proferiu, mas também em atenção a mim e a todos quantos estão presentes!

O CORO: Deixa-te persuadir, rei Édipo! Nós te pedimos!

ÉDIPO: Como, e em quê, desejais que eu ceda?

O CORO: Este homem não é criança, Édipo! Se prestou tão solene juramento, respeita-o!

ÉDIPO: Sabeis, acaso, o que ele pretende?

CORIFEU: Eu sei!

ÉDIPO: Explica-te, pois!

CORIFEU: Não acuses por uma vaga suspeita, e não lances à desonra um amigo que se votou, ele próprio, à eterna maldição!

ÉDIPO: Sabes que tal pedido equivale a querer minha morte, ou meu exílio para país distante?

CORIFEU: Não! Pelo Deus supremo! Por Hélios! Que eu morra, detestado pelos deuses e pelos homens se tiver semelhante pensamento! Mas a desgraça que me aflige, e a todo o povo de Tebas, já é bastante; não queiramos acrescentar-lhe novos motivos de desgosto!

ÉDIPO: Que ele se retire, pois, ainda que disso resulte minha morte, ou meu desterro! Cedo a vosso pedido, ó tebanos! - e não ao dele; só  vosso me comoveu! Creonte, esteja onde estiver, ser-me-á sempre odioso!

CREONTE: Cedeste contra a vontade, vê-se bem; mas sentirás remorsos, quando tua cólera se extinguir. Um caráter como o teu é uma fonte de dissabores.

ÉDIPO: Não me deixarás, finalmente, em paz? Queres, ou não, sair de Tebas?

CREONTE: Sim! Eu partirei! Doravante não me verás, nunca mais! Para os tebanos, porém, serei sempre o mesmo!

(Sai CREONTE)

CORIFEU:  Ó rainha, por que não conduzes teu marido para o palácio?

JOCASTA: Farei o que pedes, quando souber o que se passou.

CORIFEU: Fúteis palavras provocaram vagas suspeitas; ora, mesmo o que carece de fundamento muita vez nos corrói o coração.

JOCASTA: E as ofensas foram recíprocas?

CORIFEU: Oh! Certamente que sim.

JOCASTA: E que diziam eles?

CORIFEU: Melhor fora, ó rainha, encerrar este conflito no ponto em que ficou, pois já nos amargura demais o infortúnio de nosso país.

ÉDIPO: Vês tu a que situação chegamos, apesar de tuas boas intenções? E tudo porque descuraste de meus interesses, e deixaste diminuir a afeição que tinhas por mim.

O CORO: Já muitas vezes te dissemos, ó príncipe, que nós seríamos em nossa própria opinião, loucos e imprudentes se te abandonássemos agora, a ti, que nos puseste no bom caminho quando a pátria sucumbia! Sê, pois, hoje como outrora, o nosso guia!

Mornento de silêncio

JOCASTA: Mas, pelos deuses, Édipo, diz-me: por que razão te levaste a tão forte cólera?

ÉDIPO: Vou dizer-te, minha mulher, porque te venero mais do que a todos os tebanos! Foi por causa de Creonte, e da trama que urdiu contra mim.

JOCASTA: Explica-me bem o que houve, para que eu veja se tuas palavras me convencem.

ÉDIPO: Ele presume que tenha sido eu o matador de Laio!

JOCASTA: Mas... descobriu ele isso, ou ouviu de alguém?

ÉDIPO: Ele insinuou isso a um adivinho, um simples impostor, porquanto ele próprio nada se atreve a afirmar.

JOCASTA: Ora, não te preocupes com o que dizes; ouve-me, e fica sabendo que nenhum mortal pode devassar o futuro. Vou dar-te já a prova do que afirmo. Um oráculo outrora foi enviado a Laio, não posso dizer se por Apoio em pessoa, mas por seus sacerdotes, talvez... O destino do rei seria o de morrer vítima do filho que nascesse de nosso casamento. No entanto, - todo o mundo sabe e garante, - Laio pereceu assassinado por salteadores estrangeiros, numa encruzilhada de três caminhos. Quanto ao filho que tivemos, muitos anos antes, Laio amarrou-lhe as articulações dos pés, e ordenou que mãos estranhas o precipitassem numa montanha inacessível. Nessa ocasião, Apoio deixou de realizar o que predisse!... Nem o filho de Laio matou o pai, nem Laio veio a morrer vítima de um filho, morte horrenda, cuja perspectiva tanto apavorava! Eis aí como as coisas se passam, conforme as profecias oraculares! Não te aflijas, pois; o que o deus julga que deve anunciar, ele revela pessoalmente!

Momento de silêncio

ÉDIPO: Como esta narrativa me traz a dúvida ao espírito, mulher! Como me conturba a alma!...

JOCASTA: Que inquietação te pode causar esta lembrança do nosso passado?

ÉDIPO: Suponho que disseste ter sido Laio assassinado numa tríplice encruzilhada?

JOCASTA: Sim; disseram então, e ainda agora o afirmam.

ÉDIPO: E onde se deu tamanha desgraça?

JOCASTA: Na Fócida, no lugar exato em que a estrada se biparte nos caminhos que vão para Delfos e para Dáulis.

ÉDIPO: E há quanto tempo aconteceu isso?

JOCASTA: A notícia aqui chegou pouco antes do dia em que foste aclamado rei deste país.

ÉDIPO: Ó Júpiter! Que quiseste fazer de mim?

JOCASTA: Dize-me, Édipo, que é que tanto te impressiona assim?

ÉDIPO: Não me perguntes nada, ainda. Como era então Laio? Que idade teria?

JOCASTA: Era alto e corpulento; sua cabeça começava a branquear. Parecia-se um pouco contigo.

ÉDIPO: Ai de mim! Receio que tenha proferido uma tremenda maldição contra mim mesmo, sem o saber!

JOCASTA: Que dizes tu? Teu semblante causa-me pavor, ó príncipe!

ÉDIPO: Estou aterrado pela suposição de que o adivinho tenha acertado... Mas tu me elucidarás melhor, se acrescentares algumas informações.
JOCASTA: Também eu me sinto inquieta... mas responderei imediatamente a tuas perguntas.

ÉDIPO: Viajava o rei Laio com reduzida escolta, ou com um grande número de guardas, como um poderoso soberano que era?

JOCASTA: Ao todo eram cinco os viajantes, entre os quais um arauto. Um só carro conduzia Laio.

ÉDIPO: Ah! Agora já se vai esclarecendo tudo... Mas quem te forneceu estas minúcias, senhora?

JOCASTA: Um servo que voltou, o único que conseguiu salvar-se.

ÉDIPO: E vive ainda no palácio, esse homem?

JOCASTA: Não. Quando voltou a Tebas, e viu que tu exercias o poder real, em substituição ao falecido rei Laio, ele me pediu, encarecidamente, que o mandasse para o campo, a pastorear os rebanhos, para que se visse o mais possível longe da cidade. E eu atendi a esse pedido, pois na verdade, mesmo sendo ele um escravo, merecia ainda maior recompensa.

ÉDIPO: Seria possível trazê-lo imediatamente ao palácio?

JOCASTA: Certamente. Mas... para que chamá-lo?

ÉDIPO: É que eu receio, senhora, já ter descoberto muita coisa do que ele me vai dizer.

JOCASTA: Pois ele virá. Mas também eu tenho o direito de saber, creio eu, o que tanto te inquieta.

ÉDIPO: Não te recusarei essa revelação, visto que estou reduzido a uma última esperança. A quem poderia eu, com mais confiança, fazer uma confidência de tal natureza, na situação em que me encontro?

Momento de silêncio


Continua no dia 03/01/2011

quinta-feira, 23 de dezembro de 2010

 Ficheiro:Bouguereau venus detail.jpg
O nascimento de Vênus, de William-Adolphe Bouguereau

Afrodite (em grego Αφροδίτη) era a deusa grega da beleza, do amor e da procriação. Originário de Chipre, o seu culto estendeu-se a Esparta, Corinto e Atenas. Foi identificada como Vênus pelos romanos.

Possuía um cinturão, onde estavam todos os seus atrativos, que, certa vez, a deusa Hera, durante a Guerra de Tróia, pediu emprestado para encantar Zeus e favorecer os gregos.

De acordo com o mito teogônico mais aceito, Afrodite nasceu quando Urano (pai dos titãs) foi castrado por seu filho Cronos, que atirou seus testículos ao mar, então o semêm de Urano caiu sobre o mar e formou ondas chamadas de (aphros), e desse fenomeno nasceu Aphroditê ("espuma do mar"), que foi levada por Zéfiro para Chipre. Por isso um dos seus epitetos é Kypris. Assim, Afrodite é de uma geração mais antiga que a maioria dos outros deuses olímpicos.

Em outra versão (como diz Homero), Dione é mãe de Afrodite com Zeus, sendo Dione, filha de Urano e Tálassa. 

No final do século V a.C., os filósofos passaram a considerar Afrodite como duas deusas distintas, não individualizando seu culto: Afrodite Uraniana, nascida da espuma do mar após Cronos castrar seu pai Urano, e Afrodite Pandemos, a Afrodite comum "de todos os povos", nascida de Zeus e Dione. Entre os neo-platónicos e, eventualmente, seus intérpretes cristãos, a Afrodite Uraniana é vista como uma Afrodite celeste, representando o amor de corpo e alma, enquanto a Afrodite Pandemos está associada com o amor puramente físico. A representação da Afrodite Uraniana, com um pé descansando sobre uma tartaruga, mais tarde foi tida como a descrição emblemática do amor conjugal, a imagem é creditada a Fidias, em uma escultura criselefantina feita para Elis, numa única citação de Pausânias.

Assim, de acordo com a personagem Pausânias no Banquete de Platão, Afrodite é duas deusas, uma mais velha a outra mais jovem. A mais velha, Uraniana, é a "celeste" filha de Urano, e inspira o amor/Eros homossexual masculino (e, mais especificamente, os efebos), a jovem é chamada Pandemos, é a filha de Zeus e Dione, e dela emana todo o amor às mulheres. Pandemos é a Afrodite comum. O discurso de Pausânias distingue duas manifestações de Afrodite, representadas pelas duas histórias: Afrodite Uraniana (Afrodite "celestial"), e Afrodite Pandemos (Afrodite "Comum").

Casamento
Após destronar Cronos, Zeus ficou ressentido, pois, tão grande era o poder sedutor de Afrodite que ele e os demais deuses estavam brigando o tempo todo pelos encantos dela, enquanto esta os desprezava a todos, como se nada fosse. Como vingança e punição, Zeus fê-la casar-se com Hefesto, (segundo Homero, Afrodite e Hefesto se amavam, mas pela falta de atenção, Afrodite começou a trair o marido para melhor valorizá-la) que usou toda sua perícia para cobri-la com as melhores jóias do mundo, inclusive um cinto mágico do mais fino ouro, entrelaçado com filigranas mágicas. Isso não foi muito sábio de sua parte, uma vez que quando Afrodite usava esse cinto mágico, ninguém conseguia resistir a seus encantos.

 

Relacionamentos e filhos

Ficheiro:La naissance de Vénus.jpg

Alguns de seus filhos são Hermafrodito (com Hermes), Eros (deus do amor e da paixão) dependendo da versão, é filho de Hefesto, Ares ou até Zeus (com Zeus, apenas quando Afrodite é filha de Tálassa), Anteros (com Ares, a versão mais aceita ou com Adônis, versão menos conhecida),Fobos, Deimos e Harmonia (com Ares), Himeneu, (com Apolo), Príapo (com Dionísio), Eryx (com Posídon) e Eneias (com Anquises)com Taumas teve Mirtros.

Os diversos filhos de Afrodite mostram seu domínio sobre as mais diversas faces do amor e da paixão humana.

Afrodite sempre amou a alegria e o glamour, e nunca se satisfez em ser a esposa caseira do trabalhador Hefesto. Afrodite amou e foi amada por muitos deuses e mortais. Dentre seus amantes mortais, os mais famosos foram Anquises e Adônis, que também era apaixonado por Perséfone, que aliás, era sua rival, tanto pela disputa pelo amor de Adônis, tanto no que se diz respeito de beleza. Vale destacar que a deusa do amor não admitia que nenhuma outra mulher tivesse uma beleza comparável com a sua, punindo (somente) mortais que se atrevessem comparar a beleza com a sua, ou, em certos casos, quem possuísse tal beleza. Exemplos disso é Psiquê e Andrômeda.


Guerra de Tróia
Quando, no casamento de Peleu e Tétis, Éris lançou um pomo de ouro com a inscrição À mais bela, a rainha dos deuses, a deusa da sabedoria e a deusa da beleza disputaram a posse do pomo. Para resolver a querela, Páris, filho de Príamo, foi escolhido como juiz. As três deusas fizeram grandes promessas ao pastor em troca do pomo. Páris escolhe Afrodite, e recebe da deusa ajuda para receber sua recompensa por tê-la escolhido: o amor da mais bela das mulheres, Helena, esposa do rei de Esparta, Menelau. Páris rapta Helena, o que dá motivo para iniciar a guerra. Após muitos anos de guerra entre os aqueus e os troianos, a cidade é vencida e destruída.
Ficheiro:Venus8.jpg


Culto

Suas festas eram chamadas de afrodisíacas e eram celebradas por toda a Grécia, especialmente em Atenas e Corinto. Suas sacerdotisas representavam a deusa. Seus símbolos incluem a murta, o golfinho, o pombo, o cisne, a rosa, a romã e a limeira.

Entre seus protegidos contam-se os marinheiros e artesãos.
Com o passar do tempo, e com a substituição da religiosidade matrifocal pela patriarcal, Afrodite passou a ser vista como uma Deusa frívola e promíscua, como resultado de sua sexualidade liberal. Parte dessa condenação a seu comportamento veio do medo humano frente à natureza incontrolável dos aspectos regidos pela Deusa do Amor.

No templo de Corinto, praticava-se prostituição religiosa no templo da deusa. O sexo com as prostitutas, geralmente escravas, era considerado um meio de adoração e contato com a Deusa.

 

Deusas relacionadas

Afrodite tem atributos comuns com as deusas:
a) Vênus (romana)
b)Freya (nórdica)
c) Turan (estrusca )
d) Ishtar (mesopotâmica)
e) Inanna (suméria)
f) Astarte (mitologia babilônica).

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  1. Theoi Project
  2. Homero, Iliada, adaptação de Bruno Berlendis de Carvalho, 1º edição, 2007, Berlendis Editores Ltda
  3. Bulfinch, Thomas, O Livro de Ouro da Mitologia: Histórias de Deuses e Heróis, 26º edição, Rio de Janeiro, 2002, Ediouro.
  4. Homero, Iliada, adaptação de Bruno Berlendis de Carvalho, 1º edição, 2007, Berlendis Editores Ltda
  5. Schwab, Gustav, As Mais Belas Histórias da Antiguidade Clássica - Os Mitos da Grécia e de Roma Volume 1: Metamorfoses e Mitos Menores, pg. 322, 1996, Editora Paz e Terra
  6. Schwab, Gustav, As Mais Belas Histórias da Antiguidade Clássica - Os Mitos da Grécia e de Roma Volume 1: Metamorfoses e Mitos Menores, pg. 323, 1996, Editora Paz e Terra
  7. Wikipédia

 

quarta-feira, 22 de dezembro de 2010

Provérbios de Salomão

" Uma resposta suave desvia a cólera, mas uma palavra nervosa provoca ira "

De fato, quantas vezes somos tocados por uma resposta suave, de forma a tornar o nosso descontentamento mais brando; entretanto muitas vezes nós provocamos a ira daqueles que  se dirigem a nós com palavras suaves...

Devemos ficar atentos, o bom coração é aquele que transforma situações e momentos, conseguindo fazer de um instante apreensivo um momento de paz e tranquilidade...

Confesso que não é fácil, infelizmente é mais fácil provocarmos a irá ao invés de suavizarmos a cólera... Mas sabedores disso não podemos desistir de tentar e quem sabe aos poucos melhor polir o nosso espírito.

Iehuda Henrique Peres

Sossega, coração!

Sossega, coração! Não desesperes!
Talvez um dia, para além dos dias,
Encontres o que queres porque o queres.
Então, livre de falsas nostalgias,
Atingirás a perfeição de seres.


Mas pobre sonho o que só quer não tê-lo!
Pobre esperença a de existir somente!
Como quem passa a mão pelo cabelo
E em si mesmo se sente diferente,
Como faz mal ao sonho o concebê-lo!


Sossega, coração, contudo! Dorme!
O sossego não quer razão nem causa.
Quer só a noite plácida e enorme,
A grande, universal, solente pausa
Antes que tudo em tudo se transforme.


Fernando Pessoa

terça-feira, 21 de dezembro de 2010

Provérbios de Salomão

" As mulheres mais sábias constróem sua casa, mas a tola com suas próprias mãos a destroi."

Qualquer pessoa, homem ou mulher, pode fazer de seu lar o mais lindo palácio, com amor, amizade sincera e sabedoria; mas também pode destruí-lo, com o egoísmo, o interesse pessoal e a falta de inteligência, vícios morais daquele ( a ) que não possui a felicidade de sua família como prioridade de vida...

Linda animação da Música A Maçã de Raul Seixas

segunda-feira, 20 de dezembro de 2010

Provérbios de Salomão

" Um filho sábio recebe a disciplina moral de seu pai, mas um zombador não houve reprovação"

Um filho sábio, ou um homem sábio, sabe utilizar a razão no momento adequado, colocando-se de forma humilde ao escutar conselhos ou reprovações. Irá ouvir e mesmo não concordando de imediato, guardará para si o conselho ou a reprovação; e, sozinho irá dialogar com sua consciência, retirando o melhor do ensinamento para utiliza-lo no futuro.

Já o zombador, se portará de maneira arrogante, quedará em escutar e não ouvir; ou até mesmo sequer escutar, utilizando-se de artifícios como se retirar do ambiente ou até mesmo impedir a fala alheia com frases do tipo: "Já sei", "já falou", tá, tá, tá ..." Com este ( zombador ) a discussão será inóqua, pois ele não irá além de tentar ridicularizar o que não quer ouvir, zombando de princípios, convenções, leis e sentimentos humanos...

Iehuda Henrique Peres

Édipo Rei parte 2

Continuação da postagem do dia 13/12/2010

No trecho de hoje, Édipo Rei inicia fazendo uso da razão ao determinar que se apure quem matou o Rei Laio. Solicita que lhe tragam o ancião Tirésias que domina a arte da leitura do oráculo do deus Apolo.
Tirésias avisa Édipo que as revelações do oráculo não são boas; entretanto Édipo torna-se arrogante lastreando a exacerbação de suas emoções unicamente no título que ostenta, de Rei.

Édipo esquece a razão e deixa-se levar pela emoção, momento em que o ancião lhe revela que não só ( Édipo ) matou seu pai Laio, como casou-se com Jocasta sua mãe.


Reaparece GRIPO, que sai do palácio durante a última estrofe

ÉDIPO: (Ao Corifeu.) Tu ergues tua súplica; e o que vens pedir aos deuses, a proteção e o alívio a teus males, tu obterás, sem demora, se quiseres ouvir minhas palavras, e agir como se faz mister, em face do flagelo. Estas palavras, dirijo a todos vós, cidadãos, sem que nada saiba acerca do assassínio: sou estranho ao crime, e a tudo o que dele se conta; assim, ouvi o que tenho a vos recomendar. Pouco avançaremos em nossas pesquisas, se não me fornecerdes alguns indícios. Só depois desse atentado é que fui admitido como cidadão entre vós; e por isso a todos vós, tebanos, declaro o seguinte: Quem quer que saiba quem matou Laio, filho de Lábdaco, fica intimado a vir à minha presença para mo dizer; mesmo que receie alguma conseqüência da denúncia, o criminoso que fale, antecipando uma acusação de outrem, pois nenhuma outra pena sofrerá, senão a de ser exilado do país, sem que sua vida corra perigo. Se alguém sabe que o homicida não é tebano, mas estrangeiro, não deve ocultar essa revelação, pois terá uma recompensa e o meu reconhecimento. Mas, se vós silenciais, ou se alguém, por mero temor, deixar de indicar um amigo, ou de se denunciar, eis o que ordeno que se faça, e o que ele deve saber de mim: Que nenhum habitante deste reino, onde exerço o poder soberano, receba esse indivíduo, seja quem for; e não lhe dirija a palavra, nem permita que ele participe de preces ou de holocaustos, ou receba a água lustral. Que todos se afastem dele, e de sua casa, porque ele é uma nódoa infamante, conforme acaba de nos revelar o oráculo do deus. Eis aí como quero servir à divindade, e ao finado rei. E, ao criminoso desconhecido, eu quero que seja para sempre maldito! Quer haja cometido o crime só quer tenha tido cúmplices, que seja rigorosamente punido, arrastando, na desgraça, uma vida miserável... E se algum dia eu o recebi voluntariamente no meu lar, que sobre mim recaia essa maldição e os males que ela trará! Eu vos conjuro, cidadãos!
Atendei a tudo o que vos digo, por mim, pelo deus Apolo, e por este país que perece na esterilidade e na cólera divina! Ainda que essa purificação não nos fosse prescrita pelo deus, não seria possível deixar que a cidade continuasse poluída, visto que o morto era um homem bom, e era o rei! Ao contrário, deveríamos realizar todas as pesquisas possíveis! Para tanto esforçar-me-ei agora, eu, que herdei o poder que Laio exercia, eu que tive o seu lar, que recebi sua esposa como minha esposa, e que teria perfilhado seus filhos, se ele os tivesse deixado! Sim! Por todas essas razões, como se ele fosse meu pai, tudo farei para descobrir o assassino desse filho de Lábdaco, digno descendente de Polidoro, de Cadmo e do lendário Agenor. A todos quantos se recusem a me obedecer, desejo que os deuses lhes neguem todo e qualquer fruto da terra, e prole de suas esposas; e quero que para sempre padeçam de todos os males que ora sofremos, e de outros ainda mais cruéis. E a vós tebanos, que, certamente, aprovais meus desígnios, que a Justiça vos proteja, e que todos os deuses vos sejam propícios!

CORIFEU: Eu te falarei, ó rei, conforme determinas com tuas tremendas maldições Nenhum de nós foi o matador de Laio; nenhum de nós sabe indicar quem o tenha sido! Que o deus Apolo, que ordenou essa pesquisa, possa revelar-nos quem teria, há tanto tempo já, cometido esse horrendo crime!

ÉDIPO: É justo o que dizes; mas não está em nosso poder coagir a divindade a proceder de forma contrária à sua vontade.

CORIFEU: Nova idéia proporei, além da que já disse.

ÉDIPO: E, se tens uma terceira, fala! Não deixes de a formular!

CORIFEU: Conheço alguém que, quase tanto como Apolo, sabe dos mistérios profundos! É Tirésias. Se o interrogarmos, ó príncipe, ele nos dirá claramente o que se passou.

ÉDIPO: Não esqueci esse recurso; a conselho de Creonte mandei dois emissários procurá-lo. Admira-me que ainda não tenham chegado.

CORIFEU: Todos os rumores que outrora circulavam eram frívolos e antiquados.

ÉDIPO: Que rumores? Eu estimaria conhecer tudo o que então se acreditava.

CORIFEU: Diziam que Laio foi morto por uns viajantes.

ÉDIPO: Também isso ouvi dizer; mas não apareceu uma só testemunha ocular.

CORIFEU: Por muito pouco sensível que o assassino seja ao temor, quando souber da maldição terrível que proferiste, não resistirá!

ÉDIPO: Quem não receou cometer um crime tal, não se deixará impressionar por simples palavras.

O CORO: Acaba de chegar quem tudo nos vai descobrir! Trazem aqui o divino profeta, o único, entre todos os homens, que sabe desvendar a verdade!

Entra TIRÉSIAS, velho e cego, guiado por um menino.

Escoltam-no dois servidores de ÉDIPO.

EDIPO:  Ó Tirésias, que conheceis todas as coisas, tudo o que se possa averiguar, e o que deve permanecer sob mistério; os signos do céu e os da terra... Embora não vejas, tu sabes do mal que a cidade sofre; para defendê-la, para salvá-la, só a ti podemos recorrer, ó Rei!" Apolo, conforme deves ter sabido por meus emissários, declarou a nossos mensageiros que só nos libertaremos do flagelo que nos maltrata se os assassinos de Laio forem descobertos nesta cidade, e mortos ou desterrados. Por tua vez, Tirésias, não nos recuses as revelações oraculares dos pássaros, nem quaisquer outros recursos de tua arte divinatória; salva a cidade, salva a ti próprio, a mim, e a todos, eliminando esse estigma que provém do homicídio. De ti nós dependemos agora! Ser útil, quando para isso temos os meios e poderes, ë a mais grata das tarefas!

TIRÉSIAS: Oh! Terrível coisa é a ciência, quando o saber se toma inútil! Eu bem assim pensava; mas creio que o esqueci, pois  do contrário não teria consentido em vir até aqui.

ÉDIPO: Que tens tu, Tirésias, que estás tão desalentado?

TIRÉSIAS: Ordena que eu seja reconduzido a minha casa, ó rei. Se me atenderes, melhor será para ti, e para mim.

ÉDIPO: Tais palavras, de tua parte, não são razoáveis, nem amistosas para com a cidade que te mantém, visto que lhe recusas a revelação que te solicita.

TIRÉSIAS: Para teu benefício, eu bem sei, teu desejo é inoportuno. Logo, a fim de não agir imprudentemente...

ÉDIPO: Pelos deuses! Visto que sabes, não nos ocultes a verdade! Todos nós, todos nós, de joelhos, te rogamos!

TIRÉSIAS: Vós delirais, sem dúvida! Eu causaria a minha desgraça, e a tua!

ÉDIPO: Que dizes?!... Conhecendo a verdade, não falarás? Por acaso tens o intuito de nos trair, causando a perda da cidade?

TIRÉSIAS: Jamais causarei tamanha dor a ti, nem a mim! Por que me interrogas em vão? De mim nada ouvirás!

ÉDIPO: Pois quê! Ó tu, o mais celerado de todos os homens! Tu irritarias um coração de pedra! E continuarás assim, inflexível e inabalável?

TIRÉSIAS: Censuras em mim a cólera que estou excitando, porque ignoras ainda a que eu excitaria em outros! Ignoras... e, no entanto, me injurias!

ÉDIPO: Quem não se irritaria, com efeito, ouvindo tais palavras, que provam o quanto desprezas esta cidade!

TIRESIAS: O que tem de acontecer, acontecerá, embora eu guarde silêncio!...

ÉDIPO: Visto que as coisas futuras fatalmente virão, tu bem podes predizê-Ias!

TIRÉSIAS: Nada mais direi! Deixa-te levar, se quiseres, pela cólera mais violenta!

ÉDIPO: Pois bem! Mesmo irritado, como estou, nada ocultarei do que penso! Sabe, pois, que, em minha opinião, tu foste cúmplice no crime, talvez tenhas sido o mandante, embora não o tendo cometido por tuas mãos. Se na fosse cego, a ti, somente, eu acusaria como autor do crime.

TIRÉSIAS: Será verdade? Pois EU! EU é que te ordeno que obedeças ao decreto que tu mesmo baixaste, e que, a partir deste momento, não dirijas a palavra a nenhum destes homens, nem a mim, porque o ímpio que está profanando a cidade ÉS TU!

ÉDIPO: Quê? Tu te atreves, com essa impudência, a articular semelhante acusação, e pensas, porventura, que sairás daqui impune?

TIRÉSIAS: O que está dito, está! Eu conheço a verdade poderosa!

ÉDIPO: Quem te disse isso? Com certeza não descobriste por meio de artifícios!

TIRESIAS: Tu mesmo! Tu me forçaste a falar, bem a meu pesar!

ÉDIPO: Mas, que dizes, afinal? Não te compreendo bem! Vamos! Repete tua acusação!

TIRESIAS: Afirmo QUE ÉS TU o assassino que procuras!

EDIPO: Oh! Não repetirás impunemente tão ultrajante acusação!

TIRÉSIAS: Será preciso que eu continue a falar, provocando ainda mais tua cólera?

ÉDIPO: Fala o quanto quiseres... O que dizes, de nada valerá.

TIRÉSIAS: Pois eu asseguro que te uniste, criminosamente, sem o saber, àqueles que te são mais caros; e que não sabes ainda a que desgraça te lançaste!

ÉDIPO: Crês tu que assim continuarás a falar, sem conseqüências?

TIRÉSIAS: Certamente! Se é que a verdade tenha alguma força!

ÉDIPO: Sim! Ela a tem; mas não em teu proveito! Em tua boca, ela já se mostra fraca... Teus ouvidos e tua consciência estão fechados, como teus olhos.

TIRÉSIAS: E és tu, ó rei infeliz! - que me fazes agora esta censura... mas um dia virá, muito breve, em que todos, sem exceção, pior vitupério hão de formular contra ti!

ÉDIPO: Tu vives na treva... Não poderias nunca ferir a mim, ou a quem quer que viva em plena luz.

TIRÉSIAS: Não é destino teu cair vítima de meus golpes. Apolo para isso bastará, pois tais coisas lhe competem.

ÉDIPO: Isso tudo foi invenção tua, ou de Creonte?

TIRÉSIAS: Creonte em nada concorreu para teu mal; tu somente és teu próprio inimigo.

ÉDIPO: Ó riqueza! Ó poder! Ó glória de uma vida consagrada à ciência quanta inveja despertais contra o homem a quem todos admiram! Sim! Porque do império que Tebas pós em minhas mãos sem que eu o houvesse pedido, resulta que Creonte, meu amigo fiel, amigo desde os primeiros dias, se insinua sub-repticiamente sob mim, e tenta derrubar-me, subornando este feiticeiro, este forjador de artimanhas, este pérfido charlatão que nada mais quer, senão dinheiro, e que em sua arte é cego. Porque, vejamos: dize tu, Tirésias! Quando te revelaste um adivinho clarividente? Por que, quando a Esfinge propunha aqui seus enigmas, não sugeriste aos tebanos uma só palavra em prol da salvação da cidade? A solução do problema não devia caber a qualquer um; tomava-se necessária a arte divinatória. Tu provaste, então, que não sabias interpretar os pássaros, nem os deuses. Foi em tais condições que eu aqui vim ter; eu, que de nada sabia; eu, Édipo, impus silêncio à terrível Esfinge; e não foram as aves, mas o raciocínio o que me deu a solução. Tentas agora afastar-me do poder, na esperança de te sentares junto ao trono de Creonte!... Quer me parecer que a ti, e a teu cúmplice, esta purificação de Tebas vai custar caro. Não fosses tu tão velho, e já terias compreendido o que resulta de uma traição!

CORIFEU: A nosso ver, ó Rei, tanto tuas palavras, como as de Tirésias, foram inspiradas pela cólera. Ora, não se trata agora de julgar esses debates; o que urge é dar cumprimento ao oráculo de Apoio.

TIRÉSIAS: Se tu possuis o régio poder, ó Édipo, eu posso falar-te de igual para igual! Tenho esse direito! Não sou teu subordinado, mas sim de Apoio; tampouco jamais seria um cliente de Creonte. Digo-te, pois, já que ofendeste minha cegueira, - que tu tens os olhos abertos ã luz, mas não enxergas teus males, ignorando quem és, o lugar onde estás, e quem é aquela com quem vives. Sabes tu, por acaso, de quem és filho? Sabes que és o maior inimigo dos teus, não só dos que já se encontram no Hades, como dos que ainda vivem na terra? Um dia virá, em que serás
expulso desta cidade pelas maldições maternas e paternas. Vês agora tudo claramente; mas em breve cairá sobre fi a noite eterna. Que asilo encontrarás, que não ouça teus gemidos? Que recanto da terra não vibrará com tuas lamentações quando souberes em que funesto consórcio veio terminar tua antiga carreira? Tu não podes prever as
misérias sem conta que te farão igual, na desdita, a teus filhos. E agora... podes lançar toda a infâmia sobre mim, e sobre Creonte, porque nenhum mortal, mais do que tu, sucumbirá ao peso de tamanhas desgraças!

ÉDIPO: Quem poderá suportar palavras tais? Vai-te daqui, miserável! Retira-te, e não voltes mais!

TIRESIAS: Eu não teria vindo, se não me chamasses!

ÉDIPO: Nunca pensei que viesses aqui dizer tantas tolices; do contrário, não te mandaria buscar!

TIRÉSIAS: Tu me consideras tolo; mas para teus pais -- os que te deram a vida - eu sempre fui ajuizado.

ÉDIPO: Que pais? Espera um momento!... Dize: quem me deu a vida?

TIRÉSIAS: Este dia mesmo far-te-á sabedor de teu nascimento, e de tua morte!

ÉDIPO: Como é obscuro e enigmático tudo o que dizes!

TIRÉSIAS: Não tens sido hábil na decifração de enigmas?

ÉDIPO: Podes insultar-me... Hás de me engrandecer ainda.

TIRÉSIAS: Essa grandeza é que causa tua infelicidade!

ÉDIPO: Se eu já salvei a cidade... O mais, que importa?

TIRÉSIAS: Eu me retiro. Ó menino! Vem guiar-me!

ÉDIPO: Sim... é prudente que ele te leve! Tua presença me importuna; longe daqui não me molestarás.

TIRÉSIAS: Vou-me embora, sim; mas antes quero dizer o que me trouxe aqui, sem temer tua cólera, porque não me podes fazer mal. Afirmo-te, pois: o homem que procuras há tanto tempo por meio de ameaçadoras proclamações, sobre a morte de Laio, ESTA AQUI! Passa por estrangeiro domiciliado, mas logo se verá que é tebano de nascimento, e ele não se alegrará com essa descoberta. Ele vê, mas tomar-se-á cego; é rico, e acabará mendigando; seus passos o levarão à terra do exílio, onde tateará o solo com seu bordão. Ver-se-á, também, que ele é, ao mesmo tempo, irmão e pai de seus filhos, e filho e esposo da mulher que lhe deu a vida; e que profanou o leito de seu pai, a quem matara. Vai, Édipo! Pensa sobre tudo isso em teu palácio; se me convenceres de que minto, podes, então, declarar que não tenho nenhuma inspiração profética.
(Sai TIRÉSIAS)

ÉDIPO entra no palácio

O CORO
Quem será o infeliz a quem o rochedo fatídico de Delfos designa como autor dos mais monstruosos crimes?
Eis o momento em que ele deveria fugir, mais veloz que os rápidos cavalos, e mais impetuoso que a tempestade! Porque, armado com os raios fulminantes, Apolo, filho de Júpiter, já se atira contra ele, perseguido pelas inexoráveis Fúrias.
Do nevoento Pamaso acaba de chegar até nós um brado horrível: que todos persigam, pelo rasto que deixa, esse criminoso desconhecido; ele vagueia pelas florestas, esconde-se nas cavernas, ou galga as montanhas como um touro acuado. Infeliz, sua corrida insana isola-o cada vez mais dos homens; em vão procura fugir aos oráculos que nos vêm, do centro do mundo, e que, eternamente vivos, esvoaçam em tomo dele...
Terríveis, - sim! - terríveis são as dúvidas que me causam as palavras do hábil adivinho. Não sei se ele está, ou não, com a verdade; não atino o que deva pensar a respeito... Meu espírito vacila, incerto, sem compreender o passado, nem o presente.
Que conflito pode haver entre os filhos de Lábdaco e os de Políbio?
Nem outrora, nem hoje, nada soubemos que forneça uma prova contra a honorabilidade de Édipo, e que nos leve a vingar, em favor dos Labdácidas, um crime cujo autor se ignora!
Mas Júpiter e Apoio são clarividentes; eles conhecem as ações dos mortais; que um adivinho saiba, a tal respeito, mais do que nós, isso é que nada nos garante; só pela inteligência pode um homem sobrepujar a outro. Enquanto não se justificar a afirmação do adivinho, não apoiarei os que acusem Édipo. Porque foi perante todos que outrora veio contra ele a virgem alada"; vimos bem o quanto ele é inteligente, e foimediante essa prova magnífica que ele se tomou querido pela cidade.
Assim, meu espírito nunca o acusará de um crime!



... continua dia 27/12/2010