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Professor, Advogado, Especialista em Direito Constitucional pela Escola Paulista de Direito, Pós Graduado em Direito Constitucional e Administrativo, sócio fundador da Peres e Almeida Advogados Associados, sócio fundador da Bait Iehuda Condomínios, Membro do GEA - Grupo de Estudos Avançados do Complexo Jurídico Damásio de Jesus, fundador e Conselheiro Vitalício do IPAM - Instituto Paulista dos Advogados Maçons

sexta-feira, 25 de março de 2011

Parashá de Shemini - Nem tão longe, nem tão perto

É natural querermos estar próximos de quem amamos. Porém a sensação agradável de ter quem gostamos por perto pode, num piscar de olhos, transformar-se em desconforto e constrangimento. A diferença entre o que aquece o coração e o que queima o fígado é mínima.
É natural querermos abrir espaço para quem amamos. Mas dar espaço demais pode, num piscar de olhos, gerar indiferença e apatia.
Era o oitavo dia.
Um dia que de tão emocionante é como se não coubesse nos sete dias da Criação: a inauguração do Santuário. Dia de festa para toda Israel, em especial para a família sacerdotal, Aarão e seus filhos. Todos se aproximam e oferecem sacrifícios de acordo com o ordenado por Deus. Bodes, carneiros e bois são degolados, sangue é aspergido, órgãos internos, gorduras e couros são queimados no altar. Um espetáculo de calores, aromas e sensações que hoje em dia talvez provoquem apetite em alguns e enjoo em outros. De repente, os sacerdotes Nadav e Avihu, filhos mais velhos de Aarão, aproximam-se mais do que os demais, oferecem incenso vegetal - e morrem queimados na mesma hora. A alegria e a comemoração acabara de se transformar em tragédia.
Moisés parece não saber o que dizer ao irmão.
Em momentos de luto, principalmente os inesperados e trágicos, muitos de nós temos dificuldades em transmitir com nossas próprias palavras o consolo ao enlutado. Uma tentativa é dizer algo pronto, como que vindo de Deus. Imaginem a cena: Moisés se aproxima de Aarão, olha nos seus olhos e murmura: “Meu irmão, Deus disse que será santificado por seus próximos”. Aarão permanece mudo. Quem eram os próximos de Deus: os que se aproximaram demais ou os que se aproximaram conforme o ordenado?
Podemos especular que Moisés não se solidariza com a dor do irmão - ou se solidariza, mas não encontra as palavras certas. Diz algo, algo que D eus deve ter dito - e livra-se do peso das condolências. Aarão, mudo, parece não escutar ou não acreditar no que escuta. Ou fica mudo por sentir que o que Moisés disse não lhe diz nada. O fato é que ele está pasmo diante da morte dos filhos. Não há o que dizer, não há o que responder diante desta tragédia. Mas bastava Moisés se aproximar e ficar ao lado? Seriam estas a distância e a atitude corretas? A diferença entre o próximo bom e o próximo invasivo pode ser mínima e varia de caso para caso.
A Torá dos Animais
Nesta mesma parashá lemos sobre quais animais podemos consumir e quais não. Entre os proibidos estão o camelo, a lebre, o coelho e o porco.
O Midrash Vaicrá Rabá compara estes animais proibidos a quatro impérios: o camelo ao Império Babilônico; a lebre ao Império Pers a; o coelho ao Império Grego; e o porco ao Império de Edom, numa referência velada à cultura dominante nos tempos dos sábios do Midrash. Consumir estes animais significa neste contexto, assimilar a cultura dominante da época. Ainda hoje o porco é um dos animais mais consumidos pela cultura que nos cerca. Consumi-lo pode até não fazer mal à saúde física, mas distancia a alma dos valores judaicos.
Aproximar-se demais de Deus pode levar ao fanatismo. Distanciar-se demais pode levar à indiferença. Entre uma margem e outra, há muito espaço para uma vida judaica ao mesmo tempo conectada à nossa história e antenada com o nosso tempo. 

Congregação Israelita Paulista

Shabat shalom, de Jerusalém
Uri Lam

sexta-feira, 18 de março de 2011

Domingo é Purim, vamos cantar, dançar e celebrar!!!

Tempo de alegria
Existem muitos Hamans, mas só um Purim
Provérbio judaico

Purim é a data mais alegre do calendário judaico, a festa das crianças. Comemora com muita algazarra a vitória dos judeus da Pérsia – o atual Irã – contra uma tentativa de aniquilação encabeçada pelo vilão Haman, ministro do rei Achashverosh (Assuero). Os heróis são a rainha Ester, esposa judia de Achashverosh, e seu tio Mordechai, líder da comunidade judaica.

O nome da festa tem origem na palavra hebraica “pur”, sorteio, método usado por Haman para escolher a data de exterminação dos judeus daquele país. E a história se passa em Shushan, antiga capital persa, por volta de 550 anos antes de Cristo, no tempo do exílio babilônico, entre a destruição do Primeiro Templo de Jerusalém e a construção do Segundo Templo.
Segundo a Meguilat Ester, o livro de Ester na Bíblia, tudo começou com a decisão do rei Achashverosh de transferir a capital do império, da Babilônia para Shushan. Ele preparou uma grande festa para comemorar a mudança e ordenou que sua esposa, a rainha Vashti, desfilasse para mostrar sua beleza a todos. Mas Vashti recusou e o rei a expulsou da cidade.
O tempo passou e Achashverosh caiu em depressão. Seus conselheiros sugeriram que ele escolhesse uma nova esposa. O rei gostou da idéia e ordenou que as mais belas jovens, selecionadas em todo o império, fossem levadas a Shushan. Lá, ele escolheu Ester, que escondeu sua origem judaica por sugestão de seu tio Mordechai, para não irritar o rei. 

Mordechai conquistara a confiança de Achashverosh ao relatar-lhe uma conversa entre dois eunucos, no palácio, sobre um plano para matar o rei, que, ao saber disso, mandou executar os conspiradores. O problema é que isso provocou a ira do poderoso ministro Haman.
Utilizando sua influência, Haman conseguiu convencer o rei de que os judeus, que tinham costumes diferentes, conspiravam contra o trono. Achashverosh assinou então um decreto ordenando o extermínio de todos os judeus persas em um só dia: 13 de Adar, no calendário judaico, escolhido em um "pur", sorteio. Além disso, uma noite, Haman cruzou com Mordechai, na rua. Como a tradição proíbe que os judeus se curvem diante de qualquer homem, Mordechai não obedeceu a uma lei que obrigava todos a reverenciarem o ministro. Com mais raiva ainda, Haman mandou construir uma forca especialmente para executá-lo.

Mordechai, então, orientou Ester a contar ao rei que era judia e que em breve seria assassinada junto com seu povo. Na véspera do jantar em que Ester revelaria a Achashverosh sua origem, o soberano não conseguiu dormir. Para distraí-lo, seus servidores leram uma parte da crônica de seu reinado: era exatamente o trecho que contava como Mordechai salvara sua vida.

 Ele decidiu recompensar o líder judeu e, no dia seguinte, pediu ao ministro Haman uma sugestão sobre o que deveria fazer para homenagear um grande homem. Lisonjeado, Haman achou que seria o felizardo e propôs ao rei que desse ao homem as vestimentas reais e que este fosse conduzido em um lindo cavalo, por toda a cidade.

O rei gostou da idéia e pediu a Haman que conduzisse Mordechai, a cavalo, pelas ruas de Shushan. Na mesma noite, a rainha lhe contou que era judia e pediu que poupasse seu povo. O decreto de Haman foi revogado e o extermínio não aconteceu. Humilhado, Haman teve que presenciar a vitória de Mordechai e, com ele, de todos os judeus persas. O ministro terminou morto na forca que erguera para Mordechai e o dia 14 de Adar, um dia após a data planejada para o massacre, foi escolhido para comemorar Purim. Anos depois, o rei persa Dario, filho de Achashverosh e Ester, autorizou os judeus a construírem o Segundo Templo.

História 
Há muita polêmica sobre a história de Purim, que é questionada por numerosos  historiadores. Há quem diga que Achashverosh seria, na verdade, o rei persa Artaxerxes I. Mas a tese esbarra na cronologia, uma vez que ele viveu depois da construção do Segundo Templo, concluído em 515 A.C. Nesse caso, a hipótese mais viável é que Achashverosh seria Cambises II. Ele nasceu em data desconhecida, reinou até 522 A.C. e foi sucedido por Dario I, imperador entre 521 e 486 A.C., que autorizou a construção do Templo.




Parashá da Semana

Na antiga Pérsia, um judeu chamado Mordechai recusou-se a se ajoelhar diante do ministro Haman. Por este motivo, o governante decidiu aniquilar todos os judeus do reino.
No judaísmo somos proibidos de nos prostrar diante de qualquer foto, estátua ou pessoa. Devemos reverência apenas ao nosso único Deus, criador do céu e da terra.
Tenho a impressão de que a recusa de Mordechai de se curvar diante do ministro persa é ainda mais significativa. Diversas tragédias mundiais aconteceram porque populações curvaram-se aos seus líderes mesmo quando esses estavam completamente equivocados.
Catástrofes mundiais poderiam ter sido evitadas se o cidadão comum tivesse a retidão de não se curvar. Se homens e mulher houvessem conseguido permanecer em pé quando ditadores exigiam que se ajoelhassem diante deles, muitas manchas na história da humanidade poderiam ter sido evitadas.
Acredito que a lição de Purim é mais do que atual. Devemos examinar nossas consciências todas as vezes que líderes exigem nossa reverência. Quando não concordamos com determinada situação, precisamos ter a coragem de Mordechai de não se prostrar e, ao invés disto, permanecermos retos, coerentes com nossas convicções e princípios.
Todos os dias, rezamos durante as bênçãos da manhã: “Baruch zokef kefufim”, bendito seja Deus que permite que os curvados fiquem eretos. Abençoado seja o Criador do Universo que nos permite manter nossa retidão mesmo quando outros se curvam a falsas lideranças. 
Que saibamos comemorar com muita alegria a Festa de Purim. E principalmente, que tenhamos a sabedoria necessária para nos mantermos coerentes com aquilo que acreditamos ser justo e correto. Que Deus conserve em nós, a benção de caminhar eretos. E que tenhamos a capacidade que teve Mordechai de nunca se ajoelhar diante daquilo que não acreditamos.

Chag Purim Sameach e Shabat Shalom. 
Rabino Michel Schlesinger

sexta-feira, 4 de março de 2011

Shabat shalom - Pecudê

Este é o portal para o Eterno; os justos entrarão por ele

Nas próximas semanas comemoramos duas festas: Purim, quando os judeus se libertaram de Haman e da ameaça de extermínio na Pérsia; e Pessach, quando fomos libertados da escravidão no Egito. Como preparação para este período, temos, antes de Purim, Shabat Shecalim e Shabat Zachor; e antes de Pessach, Shabat Pará e Shabat Hachódesh.

Estamos em Shabat Shecalim, quando lemos na Torá (Ex.30:11-16) quando Deus ordenou que Moisés recenseasse os israelitas: ao ser contado, cada um deve doar meio shekel para os serviços no Ohel Moêd, a Tenda da Reunião. Nem os ricos devem doar mais, nem os pobres devem doar menos. Cada pessoa tem o mesmo valor diante de Deus.

Construir ou não construir portões, eis a questão

Nos grandes centros urbanos, portões com guaritas fazem parte do dia a dia e nem nos questionamos mais sobre a sua necessidade. Guardas armados, câmeras internas e grades eletrificadas protegem casas e instituições 24 horas por dia. O motivo justificado é a segurança. Imaginamos que quanto mais vemos quem se aproxima, mais seguros estamos.

Por outro lado, os temores de assalto ao patrimônio aparentemente não eram uma preocupação para Moisés. A leitura da Torá desta semana, a última do livro de Shemot (Êxodo), relata a prestação de contas de uma riqueza de materiais para construção do Mishcán, O Santuário do Testemunho. Foram 29 talentos e 730 shecalim, uma tonelada, só de ouro puro, além de três toneladas de prata e mais uma infinidade de metais, madeiras e tecidos preciosos. Ao final, podemos imaginar que Moisés disporia centenas de guardas em suas guaritas para proteger o pátio em torno do santuário. Não. Foi colocada uma tela no portão do pátio e é só. Assim Moisés deu a obra por terminada.

O que se ganha ao construir um portão com guarita?

No Talmud (Baba Batra 7b) lemos uma história que mudará o nosso foco. Havia um bondoso homem que conversava todo dia com ninguém menos do que Eliahu, o Profeta Elias. Um dia ele construiu uma guarita no portão de sua casa - e desde então Eliahu deixou de falar com ele. Por quê? Eliahu não entendia que era mais seguro conversar em casa, protegido por um guarda? Não. Para Eliahu a guarita não servia para evitar ladrões, mas para impedir a vinda dos mais pobres. A guarita evitava o cumprimento da tsedacá, ajudar ao próximo no momento de sua necessidade.

A Casa de Deus tinha diante de seu portão somente uma tela, sem guaritas nem guardas. Eram outros tempos... Mas enfim, terminada a obra, a glória de Deus preencheu o Santuário na forma de nuvem. Nem Moisés podia entrar lá nesta hora, porque o Divino não deixava lugar para mais nada. Deus nos deixou de fora. Talvez para sentirmos na pele o que é estar no lugar do outro que vem pedir auxílio no momento de necessidade, mas que fica do lado de fora de portões e guaritas. Somente quando o Divino, na forma de nuvem, eleva-se acima do espaço sagrado é que os filhos de Israel podem "entrar pelo portão" e seguir suas jornadas. O portão permite o encontro. Deus abre espaço para entrarmos, conversarmos com Eliahu e com todos, e seguirmos nossas jornadas. “Este é o portal para o Eterno; os justos entrarão por ele”. (Salmos 118:20)

Shabat shalom, de Jerusalém
Uri Lam
Congregação Israelita Paulista