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Professor, Advogado, Especialista em Direito Constitucional pela Escola Paulista de Direito, Pós Graduado em Direito Constitucional e Administrativo, sócio fundador da Peres e Almeida Advogados Associados, sócio fundador da Bait Iehuda Condomínios, Membro do GEA - Grupo de Estudos Avançados do Complexo Jurídico Damásio de Jesus, fundador e Conselheiro Vitalício do IPAM - Instituto Paulista dos Advogados Maçons

quarta-feira, 9 de fevereiro de 2011

Édipo Rei - quarta parte

No trecho de hoje, Édipo se recorda da consulta feita ao oráculo do deus Apolo e da forma como deixou suas conclusões serem levadas pela emoção...

ÉDIPO: (Prosseguindo, em tom de confidência.) Meu pai é Políbio, de Corinto; minha mãe, Mérope, uma dória. Eu era considerado como um dos mais notáveis cidadãos de Corinto, quando ocorreu um incidente fortuito, que me devia surpreender, realmente, mas que eu talvez não devesse tomar tanto a sério, como fiz. Um homem, durante um festim, bebeu em demasia, e, em estado de embriaguez, pôs-se a insultar-me, dizendo que eu era um filho enjeitado. Possuído de justa indignação, contive-me naquele momento, mas no dia imediato procurei meus pais e interroguei-os a respeito. Eles irritaram-se contra o autor da ofensa, o que muito me agradou, pois o fato me havia profundamente impressionado. À revelia de minha mãe, e de meu pai, fui ao templo de Delfos; mas, às perguntas que propus, Apolo nada respondeu, limitando-se a anunciar-me uma série de desgraças, horríveis e dolorosas; que eu estava fadado a unir-me em casamento com minha própria mãe, que apresentaria aos homens uma prole malsinada, e que seria o assassino de meu pai, daquele a quem devia a vida. Eu, diante de tais predições, resolvi, guiando-me apenas pelas estrelas, exilar-me para sempre da terra coríntia, para viver num lugar onde nunca se pudessem realizar -pensava eu - as torpezas que os funestos oráculos haviam prenunciado. Caminhando, cheguei ao lugar onde tu dizes que o rei pereceu. A ti, mulher, vou dizer a verdade, do princípio ao fim".

Seguia eu minha rota, quando cheguei àquela tríplice encruzilhada; ali, surgem-me pela frente, em sentido contrário, um arauto, e logo após, um carro tirado por uma parelha de cavalos, e nele um homem tal como me descreveste. O cocheiro e o viajante empurraram-me violentamente para fora da estrada. Furioso, eu ataquei o cocheiro; nesse momento passava o carro a meu lado, e o viajante chicoteou-me na cara com o seu duplo rebenque. Ah! mas ele pagou caro essa afronta; ergui o bordão com que viajava, e bati-lhe, com esta mão; ele caiu, à primeira pancada, no fundo do carro. Atacado, matei os outros"'.

Se aquele velho tinha qualquer relação com Laio, quem poderá ser mais desgraçado no mundo do que eu? Que homem será mais odiado pelos deuses? Nenhum cidadão, nenhum forasteiro o poderá receber em sua casa, nem dirigir-lhe a palavra... Todos terão que me repelir... E o que é mais horrível é que eu mesmo proferi essa maldição contra mim! A esposa do morto, eu a maculo tocando-a com minhas mãos, porque foram minhas mãos que o mataram... Não sou eu um miserável, um monstro de impureza? Não é forçoso que me exile, e que, exilado, não mais possa voltar à minha pátria de origem, nem ver os que me eram caros, visto que estou fadado a unir-me à minha mãe, e a matar meu pai, a Políbio, o homem que me deu a vida e me criou?

Não pensaria bem aquele que afirmasse que meu destino é obra de um deus malvado e inexorável? Ó Potestade divina, não, e não! Que eu desapareça dentre os humanos antes que sobre mim caia tão acerba vergonha!

CORIFEU: Também a nós, ó rei! também a nós tudo isso emociona; mas tem esperança, aguardando a testemunha que tudo esclarecerá!

ÉDIPO: Oh! Sim! É a única esperança que me resta, a palavra desse pastor que aí vem.

JOCASTA: E por que a presença desse homem te poderá tranqüilizar?

ÉDIPO: Vou dizer-te já: se o seu depoimento coincidir com o que disseste, eu estou salvo!

JOCASTA: Que revelação teria sido essa, tão importante, que ouviste de mim?

ÉDIPO: Conforme declaraste há pouco, esse homem dissera que Laio foi assassinado por salteadores. Se ele persistir em tal afirmativa, não teria sido eu o assassino, pois ninguém confunde um homem só com vários. Mas se ele se referir a um só agressor, é evidente que fui eu o autor do crime!...

JOCASTA:Sim! Certamente! Ele o disse, e não poderá agora negar seu testemunho! Todo o povo o ouviu, então; não fui eu a única. No entanto, ainda que mude agora sua narração, nunca poderá provar que a morte de Laio foi obra tua, visto que pelo oráculo de Apolo o rei devia morrer às mãos de meu filho; ora, esse filho infeliz não poderia ter ferido a Laio, porque morreu antes dele. Em tal caso, eu não daria mais nenhum valor aos oráculos! ...

ÉDIPO: Tens razão. Mande, pois, chamar esse escravo, sem demora.

JOCASTA: Vou mandar, imediatamente! Mas entremos no palácio. Nada quero fazer, que te desagrade.

(Saem ÉDIPO e JOCASTA)

O CORO: Possa eu conservar a mais santa pureza quer em minhas palavras quer em minhas ações! Possa eu obedecer na vida, às leis sublimes, instituídas pela Providência Divina, da qual é o Olimpo o supremo pai! Não as criou a natureza mortal dos humanos, e nunca as apagará o sono do esquecimento; vive nelas uma potestade divina, a que a velhice não pode atingir. O orgulho é que produz o tirano; e quando tiver em vão acumulado excessos e imprudências, precipitar-se-á do fastígio de seu poder num abismo de males, de onde não mais poderá sair! Mas suplicamos ao deus que não cesse a campanha pela salvação da cidade; a divindade será sempre a nossa protetora. A todo aquele que se mostrar prepotente por suas ações ou por suas palavras: que não venera santuários, nem respeita a Justiça, -que uma funesta morte o castigue, punindo-o por sua insolência! Se ele fizer fortuna, pelo sacrilégio e pela impiedade, quem mais quererá manter o domínio de sua alma? Se tão nefandos crimes merecem honrarias, de que vale entoar cânticos em louvor dos deuses? Não mais iremos ao santuário central da terra a fim de prestar culto ao deus, nem ao templo de Abê, nem a Olímpia, se esses oráculos não mais se realizarem, de modo que possam ser citados como exemplo a todos os homens. Ó deus todo-poderoso, se mereces esse título, Zeus, senhor supremo, que isso não passe despercebido a teu poder imortal; se de nada valeram os oráculos enviados a Laio, serão desprezados; Apolo não mais será honrado com o devido esplendor, e o culto dos deuses desaparecerá!

Continua em 14 de fevereiro de 2011

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