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Professor, Advogado, Especialista em Direito Constitucional pela Escola Paulista de Direito, Pós Graduado em Direito Constitucional e Administrativo, sócio fundador da Peres e Almeida Advogados Associados, sócio fundador da Bait Iehuda Condomínios, Membro do GEA - Grupo de Estudos Avançados do Complexo Jurídico Damásio de Jesus, fundador e Conselheiro Vitalício do IPAM - Instituto Paulista dos Advogados Maçons

segunda-feira, 13 de dezembro de 2010

"É D I P O"

Édipo Rei (OΙΔΙΠΟΥΣ ΤΥΡΑΝΝΟΣ em grego - Édipo Tirano, em transliteração é uma peça de teatro grega, mais precisamente uma tragédia, escrita por Sófocles a aproximadamente 2.500 anos.

Trata de uma parte do mito de Édipo. Esta é uma de três célebres peças cujo cerne é a família de Édipo, descrevendo eventos com mais de 8000 anos aos narrados em Antígona e Édipo em Colono.

Considerada por Aristóteles, em sua obra Poética como o mais perfeito exemplo de tragédia grega.

O mito de Édipo Rei é um dos pilares da psicanálise clássica. A definição do Complexo de Édipo remonta a uma carta enviada por Freud a seu amigo Fliess, em que discute relações de poder e saber num drama encenado tipicamente por pai, mãe e filho.

Em A verdade e as formas jurídicas, Michel Foulcault  fez uma análise das práticas judiciárias da Grécia antiga através da história de Édipo contada por Sófocles.

O Blog do Iehuda irá disponibilizar a íntegra desta peça teatral clássica, para que você leitor, possa mais do que ler, refletir sobre as angustias que dominam o ser humano desde os mais remotos tempos.
Fonte: Cultvox - www.dominiopublico.gov.br


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ÉDIPO REI - PARTE 01/10
O povo clama e Édipo envia Creonte para consultar o oráculo

Rei Édipo - Sófocles
PERSONAGENS
O REI ÉDIPO
O SACERDOTE
CREONTE
TIRESIAS
JOCASTA
UM MENSAGEIRO
UM SERVO
UM EMISSÁRIO
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CORO DOS ANCIÃOS DE TEBAS
A ação passa-se em Tebas (Cadméia), diante do palácio do rei ÉDIPO.

Junto a cada porta há um altar, a que se sobe por três degraus. O povo está ajoelhado em tomo dos altares, trazendo ramos de louros ou de oliveira. Entre os anciãos está um sacerdote de Júpiter. Abre-se a porta
central; ÉDIPO aparece, contempla o povo, e fala em tom paternal.

ÉDIPO: Ó meus filhos, gente nova desta velha cidade de Cadmo, por que vos prostemais assim, junto a estes altares, tendo nas mãos os ramos dos suplicantes? Sente-se, por toda a cidade, o incenso dos sacrifícios; ouvem-se gemidos, e cânticos fúnebres. Não quis que outros me informassem da causa de vosso desgosto; eu próprio aqui venho, eu, o rei Édipo, a quem todos vós conheceis. Eia! Responde tu, ó velho; por tua idade veneranda convém que fales em nome do povo. Dize-me, pois, que motivo aqui vos trouxe? Que terror, ou que desejo vos reuniu? Careceis de amparo? Quero prestar-vos todo o meu socorro, pois eu seria insensível à dor, se não me condoesse de vossa angústia.

O SACERDOTE: Édipo, tu que reinas em minha pátria, bem vês esta multidão prosternada diante dos altares de teu palácio; aqui há gente de toda a condição: crianças que mal podem caminhar, jovens na força da vida, e velhos curvados pela idade, como eu, sacerdote de Júpiter. E todo o restante do povo, conduzindo ramos de oliveira, se espalha pelas praças públicas, diante dos templos de Minerva, em torno das cinzas proféticas de Apolo Ismênio! Tu bem vês que Tebas se debate numa crise de calamidades, e que nem sequer pode erguer a cabeça do abismo de sangue em que se submergiu; ela perece nos germens fecundos da terra, nos rebanhos que definham nos pastos, nos insucessos das mulheres cujos filhos não sobrevivem ao parto. Brandindo seu archote, o deus maléfico da peste devasta a cidade e dizima a raça de Cadmo; e o sombrio Hades se enche corri os nossos gemidos e gritos de dor. Certamente, nós não te igualamos aos deuses imortais; mas, todos nós, eu e estes jovens, que nos acercamos de teu lar, vemos em ti o primeiro dos homens, quando a desgraça nos abala a vida, ou quando se faz preciso obter o apoio da divindade. Porque tu livraste a cidade de Cadmo do tributo que nós pagávamos à cruel Esfinge; sem que tivesses recebido de nós qualquer aviso, mas com o auxilio de algum deus, salvaste nossas vidas. Hoje, de novo aqui estamos, Édipo; a ti, cujas virtudes admiramos, nós vimos suplicar que, valendo-te dos conselhos humanos, ou do patrocínio dos deuses, dês remédios aos nossos males; certamente os que possuem mais longa experiência é que podem dar os conselhos mais eficazes! Eia, Édipo! Tu, que és o mais sábio dos homens, reanima esta infeliz cidade, e confirma tua glória! Esta nação, grata pelo serviço que já lhe prestaste, considera-te seu salvador; que teu reinado não nos faça pensar que só fomos salvos por ti, para recair no infortúnio, novamente! Salva de novo a cidade; restitui-nos a tranquilidade, ó Édipo! Se o concurso dos deuses te valeu, outrora, para nos redimir do perigo, mostra, pela segunda vez, que és o mesmo! Visto que desejas continuar no trono, bem melhor será que reines sobre homens, do que numa terra deserta. De que vale uma cidade, de que serve um navio, se no seu interior não existe uma só criatura humana?

ÉDIPO: Ó meus filhos, tão dignos de piedade! Eu sei, sei muito bem o que viestes pedir-me. Não desconheço vossos sofrimentos; mas na verdade, de todos nós, quem mais se aflige sou eu. Cada um de vós tem a sua queixa; mas eu padeço as dores de toda a cidade, e as minhas próprias. Vossa súplica não me encontra descuidado; sabei que tenho já derramado abundantes lágrimas, e que meu espírito inquieto já tem procurado remédio que nos salve. E a única providência que consegui encontrar, ao cabo de longo esforço, eu a executei imediatamente. Creonte, meu cunhado, filho de Meneceu, foi por mim enviado ao templo de Apolo, para consultar o oráculo sobre o que nos cumpre fazer para salvar a cidade. E, calculando os dias decorridos de sua partida, e o de hoje, sinto-me deveras inquieto; que lhe terá acontecido em viagem? Sua ausência já excede o tempo fixado, e sua demora não me  parece natural. Logo que ele volte, considerai-me um criminoso se eu não executar com presteza tudo o que o deus houver ordenado.

O SACERDOTE: Realmente, tu falas no momento oportuno, pois acabo de ouvir que Creonte está de volta.

ÉDIPO: Ó rei Apolo! Tomara que ele nos traga um oráculo tão propício, quanto alegre se mostra sua fisionomia!

O SACERDOTE: Com efeito, a resposta deve ser favorável; do contrário, ele não viria assim, com a cabeça coroada de louros"

ÉDIPO:  Vamos já saber; ei-lo que se aproxima, e já nos pode falar. O príncipe, meu cunhado, filho de Meneceu, que resposta do deus Apoio tu nos trazes?

Entra CREONTE

CREONTE: Uma resposta favorável, pois acredito que mesmo as coisas desagradáveis, se delas nos resulta algum bem, tomam-se uma felicidade.

ÉDIPO: Mas, afinal, em que consiste essa resposta? O que acabas de dizer não nos causa confiança, nem apreensão.

CREONTE: (Indicando o povo ajoelhado.) Se queres ouvir-me na presença destes homens, eu falarei; mas estou pronto a entrar no palácio, se assim preferires.

ÉDIPO: Fala perante todos eles; o seu sofrimento me causa maior desgosto do que se fosse meu, somente.

CREONTE: Vou dizer, pois, o que ouvi da boca do deus''. O rei Apoio ordena, expressamente, que purifiquemos esta terra da mancha que ela mantém; que não a deixemos agravar-se até tornar-se incurável.

ÉDIPO: Mas, por que meios devemos realizar essa purificação? De que mancha se trata?

CREONTE: Urge expulsar o culpado, ou punir, com a morte, o assassino, pois o sangue maculou a cidades.

ÉDIPO: De que homem se refere o oráculo à morte?

CREONTE: Laio, o príncipe, reinou outrora neste país, antes que te tornasses nosso rei.

ÉDIPO: Sim; muito ouvi falar nele, mas nunca o vi.

CREONTE: Tendo sido morto o rei Laio, o deus agora exige que seja punido 0 seu assassino, seja quem for.

ÉDIPO: Mas onde se encontra ele? Como descobrir o culpado de um crime tão antigo?

CREONTE: Aqui mesmo, na cidade, afirmou o oráculo. Tudo o que se procura, será descoberto; e aquilo de que descuramos, nos escapa.

ÉDIPO: fica pensativo por um momento

ÉDIPO: Foi na cidade, no campo, ou em terra estranha que se cometeu o homicídio de Laio?

CREONTE: Ele partiu de Tebas, para consultar o oráculo, conforme nos disse, e não mais voltou.

ÉDIPO: E nenhuma testemunha, nenhum companheiro de viagem viu qualquer coisa que nos possa esclarecer a respeito?

CREONTE: Morreram todos, com exceção de um único, que, apavorado, conseguiu fugir, e de tudo o que viu só nos pôde dizer uma coisa.

ÉDIPO: Que disse ele? Uma breve revelação pode facilitar-nos a descoberta de muita coisa, desde que nos dê um vislumbre de esperança.

CREONTE: Disse-nos ele que foram salteadores que encontraram Laio e sua escolta, e o mataram. Não um só, mas um numeroso bando.

ÉDIPO: Mas como, e para que teria o assassino praticado tão audacioso atentado, se não foi coisa tramada aqui, mediante suborno?
CREONTE: Também a nós ocorreu essa idéia; mas, depois da morte do rei,ninguém pensou em castigar o criminoso, tal era a desgraça que nos ameaçava.

ÉDIPO: Que calamidade era essa, que vos impediu de investigar o que se passara?

CREONTE: A Esfinge, com seus enigmas, obrigou-nos a deixar de lado os fatos incertos, para só pensar no que tínhamos diante de nós.

ÉDIPO: Está bem; havemos de voltar à origem desse crime, e pô-lo em evidência. É digna de Apoio, e de ti, a solicitude que tendes pelo morto; por isso mesmo ver-me-eis secundando vosso esforço, a fim de reabilitar e vingar a divindade e o país ao mesmo tempo. E não será por um estranho, mas no meu interesse que resolvo punir esse crime; quem quer que haja sido o assassino do rei Laio bem pode querer, por igual forma, ferir-me com a mesma audácia. Auxiliando-vos, portanto, eu sirvo a minha própria causas. Eia, depressa, meus filhos! Erguei-vos e tomai vossas palmas de suplicantes; que outros convoquem os cidadãos de Cadmo; eu não recuarei diante de obstáculo algum! Com o auxilio do Deus, ou seremos todos felizes, ou ver-se-á nossa total ruína!

O SACERDOTE: Levantemo-nos, meus filhos! O que ele acaba de anunciar é, precisamente, o que vínhamos pedir aqui. Que Apolo, que nos envia essa predição oracular, possa-nos socorrer, também, para pôr um fim ao flagelo que nos tortura!

Saem ÉDIPO, CREONTE, O SACERDOTE. Retira-se o POVO.

Entra O CORO, composto de quinze notáveis tebanos.

O CORO:
Doce palavra de Zeus, que nos trazes do santuário dourado de Delfos à cidade ilustre de Tebas? Temos o espírito conturbado pelo terror, e o desespero nos quebranta. Ó Apoio, nume tutelar de Delos, tu que sabes curar todos os males, que sorte nos reservas agora, ou pelos anos futuros? Dize-nos tu, filha da áurea Esperança, divina voz imortal!

Também a ti recorremos, ó filha de Zeus. Palas eterna, e a tua divina irmã, Diana, protetora de nossa pátria, em seu trono glorioso na Ágora imensa; e Apoio, que ao longe expede suas setas; vinde todos vós em nosso socorro; assim como já nos salvastes outrora de uma desgraça que nos ameaçava, vinde hoje salvar-nos de novo!

Ai de nós, que sofremos dores sem conta! Todo o povo atingido pelo contágio, sem que nos venha à mente recurso algum, que nos possa valer! Fenecem os frutos da terra; as mães não podem resistir às dores do parto; e as vítimas de tanta desgraça atiram-se à região do deus das trevas.

Privada desses mortos inúmeros, a cidade perece, e, sem piedade, sem uma só lágrima, jazem os corpos pelo chão, espalhando o contágio terrível; as esposas, as mães idosas, com seus cabelos brancos, nos degraus dos altares para onde correm de todo os pontos, soltam gemidos pungentes, implorando o fim de tanta desventura. E à
lamúria dolorosa se juntam os sons soturnos do péan. Dileta filha dourada de Júpiter, envia-nos, sorridente, o teu socorro!

E o poderoso Marte, que ora nos inflama sem o bronze dos escudos, ferindo-nos no meio destes gritos de horror, afungentai-o para bem longe de nossa terra, ou para o vastíssimo leito de Anfitrite, ou para as ondas inóspitas dos mares da Trácia porque o que a noite não mata, o dia imediato com certeza destrói. Ó Júpiter, nosso Pai, senhor das faíscas ofuscantes, esmaga esse Marte impiedoso sob teus raios terríveis!

Ó rei Lício, nós pedimos que de teu arco de ouro tuas flechas invencíveis fossem lançadas para nos socorrer, para nos proteger, bem como as tochas ardentes de Diana, com as quais ela percorre as colinas de tua terra. Invocamos também o deus de dourada fiara, que usa o nome de nosso país, Baco, de rubicundas faces, o deus da alegria, para
que, com seu cortejo de ninfas, corra também em nosso auxílio, com seu flamejante archote, contra esse deus cruel, que ninguém venera!

continua em 20/12/2010

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